EXPERIÊNCIA EXTRAESCOLAR

Refere-se a toda experiência social
educativa vivida fora da instituição escolar. É um tempo-vivência não regulado
pela escola, mas que condiciona de forma diferenciada a qualidade da
experiência escolar.

Caracterizada na tradição escolar
como complementar e compensatória da prática pedagógica. Tem-se constituído uma
exigência moral tácita do papel da escola e uma ambiguidade na regulação do
tempo relativo à escola fora da escola. São vivências que não têm a ver em
concreto com a aprendizagem escola, mais que tendem a desenvolver e maximizar a
qualidade do trabalho escolar e o capital
cultural
no sentido bourdierdiano
e que marcadamente são acentuadas pelas diferenças socioeconômicas.

A experiência extraescolar possui
diversas modalidades e esta dimensão formativa faz referência às atividades e
processos de formação fora do âmbito escolar. Nesse sentido, funcionam como uma
“ferramenta de suporte” que auxilia os estudos e a formação acadêmica dado que
acaba por gerar um capital cultural
potente e valioso que aprofunda e constitui o diferencial formulador de
caminhos alternativos. As vivências e aprendizagens cotidianas formais e não
formais organizadas fora do marco específico da instituição escolar e que
complementam e regulam as diversas atividades, tarefas, rotinas e intervenções
de reforço e suporte pedagógico são recursos facilitadores das unidades
curriculares e das experiências organizativas e pragmáticas da carreira
acadêmica que envolvem os macrotempos educativos e são definidores dos
múltiplos saberes e atividades cotidianas.

Nessa categoria se incluem todas as
atividades extraletivas de aprendizagem sociocultural que incidem no desempenho
escolar. Refere-se, também, ao tempo educativo de inversão e possível dedicação
do educando, da família, da comunidade, do Estado… fora da atenção e cuidados
exclusivos da escola. É um tempo invasivo que condiciona em grande parte a
experiência acadêmica, pois através dele se espera tanto da família como do
educando que desenvolva os estudos, hábitos de leitura, disciplina de trabalho
escolar, prepare as tarefas e materiais de aplicação, reforce os esquemas
analíticos e valorativos não internalizados e terminados no espaço específico
da instituição escolar.

Não podemos deixar de reconhecer a
importância que têm para a formação infanto-juvenil os recursos e as tradições
como as familiares, os meios de comunicação sociais, o cotidiano, o entorno
ecológico, a cultura, a cidade, o bairro, o desporto, o ócio, o tempo criativo
e as experiências adicionais à formação escolar que integradas e contaminadas
mutuamente formam uma rede de aprendizagem significativa que potencializam o
aprendizado feito na escola. Esses núcleos de aprendizagem constituem espaços e
tempos interativos que servem de elemento organizativo fundamental da
experiência escolar e dos outros tempos sociais.

Em definitivo, trata-se através
dessas experiências compaginar e conjugar esforços e recursos adicionais
incrementando o capital cultura
individual
que não é outra coisa que alimentar as inversões individuais e
socioculturais do entorno familiar e do cotidiano do sujeito na sua experiência
vital e orgânica que, comprovadamente, acaba por representar para os setores
mais favorecidos o tempo educativo por excelência, pois se supõe que a maior
quantidade de tempo investido, melhor, mais preparado academicamente estará o
educando e, em consequência, mais produtivo e mais êxito na experiência
específica da escola. Portanto, uma sociedade democrática deveria promover para
os setores menos favorecidos esse processo de capitalização cultural adquirido
fora do espaço específico da escola, maximizando a capacidade de ação
instrutiva do sujeito e os processos formativos que estruturam e vertebram uma
multiplicidade de competências socioculturais e formativas além das técnicas e
instrutivas.

Tradicionalmente, a ação educativa
tem se confrontado com duas realidades temporais relacionadas e diferenciadas
entre si: a experiência escolar objetiva, cronometrada, institucionalizada que
converge com o tempo externo à intencionalidade e as modalidades das experiências
organizativas escolares e, por outro lado, a experiência extraescolar trazida
pelo educando da sua prática e inversões que falam de um tempo mais subjetivo,
dinâmico, emergente, contínuo, intencional, convergente com o tempo processual
do desejo, do entorno social, do cotidiano, das circunstâncias e do propósito
educativo mais amplo. Entende-se assim por experiência extraescolar aquela que
interioriza os esquemas empíricos das formas de vida, os códigos analíticos,
valorativos, culturais e temporais não só da realidade instituída –
racionalmente instituída pela escola – mas investido a sua vez nas dinâmicas e
exigências no educando como agente ativo construtor de sua experiência educativa
fora da escola em seus limites e possibilidades reais e projetivas. Isso nos
indica a importância formativa das atividades extraescolares na constituição de
rotinas, compromissos, valores, competências… que constituem a “escola fora
da escola” e determinam em grandes partes as margens de inclusão e exclusão da
mesma. Há que se reconhecer que as famílias dos setores mais favorecidos em
capital cultural se inclinam a diversificar, maximizar e investir 
preferencialmente na educação extraescolar de seus filhos e agendam fora do canôn acadêmico inversões educativas de
diferentes matizes e qualidades numa relação pragmática de custo-benefício. Dessa
forma, as características e a natureza da experiência escolar e o status social da família se reforçam
mutuamente. Não, por acaso, não acontece o mesmo com as camadas populares.

Uma orientação inovadora da nova
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUÇÃO NACIONAL – LDB –, resultado das lutas e
conquistas sociais, é a valorização da experiência extraescolar, princípio este
que é a confirmação da flexibilidade e ampliação do conceito do educativo, que
valoriza não apenas o saber sistematizado da educação formal, mas busca o
desenvolvimento de uma cultura pedagógica que destaque o patrimônio cultural
que o aluno-sujeito constrói fora e dentro da escola através de sua vivência
social mais ampla.

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