TRABALHO PEDAGÓGICO

Por trabalho pedagógico entende-se todo o trabalho
cujas bases estejam, de alguma forma, relacionadas à Pedagogia, evidenciando,
portanto, métodos, técnicas, avaliação intencionalmente planejadas e tendo em
vista o alcance de objetivos relativos à produção de conhecimentos. Normalmente
atribuído aos professores, o trabalho pedagógico pode ser realizado também por
sujeitos que não são licenciados ou não estão na condição de professores. Quando
o trabalho acontece em uma instituição educacional, faz-se necessário, de algum
modo, ser representativo do projeto pedagógico institucional. Por esses motivos,
não é um trabalho simples, pois, mais do que saberes, exige interação com
outros sujeitos, possibilidade de linguagens em interlocução e conciliação
entre a proposta e um referencial teórico-metodológico. E esta tem sido a
grande questão quando se aborda o tema.

Desde Comenius, no século XVII, há a tentativa de
elaborar uma prescrição de um trabalho pedagógico universal. Comenius
(1592-1670), em sua
Didática Magna, inaugura uma série de descrições de uma metodologia
que possibilitaria ensinar tudo a todos. Quase dois séculos depois, Rousseau
(1712-1778) contrapôs-se a tal perspectiva, suprimindo as escolas, mas mantendo
uma concepção de trabalho pedagógico com vistas à produção natural do
conhecimento e relacionando educação e natureza, em uma época, a iluminista, na
qual o Estado passa a ser, paulatinamente, responsabilizado pela educação
pública. Outros autores dedicaram-se a esse objetivo: Kant (1724-1804), em A Pedagogia (2002),
atribuindo ao trabalho pedagógico também uma função moralizante; mais tarde, em
uma perspectiva pragmática, John Dewey (1859-1952) reafirmou a função social da
escola, propondo que o trabalho pedagógico dos professores era um modo de
propiciar uma vivência democrática para os estudantes; e assim, sucessivamente,
a intenção dos autores tem sido encontrar um modo de caracterizar o trabalho
pedagógico com base em uma perspectiva teórica explicitada.

Na contemporaneidade, há autores que abordam temas
relativos ao trabalho pedagógico em relação a um contexto social marcado pelas
características atuais da sociedade capitalista, considerando-o como trabalho
dos professores, portanto, afetado por diversos processos, tais como:
precarização, fragmentação, intensificação e performatividade. Argumentações
sobre esses processos, no Brasil, são encontradas em obras de Oliveira (2003),
Hypólito (1997, 1999), Shiroma e Evangelista (2004), além de muitos outros
autores. Entretanto, salienta-se que trabalho docente, trabalho dos professores
e trabalho pedagógico mantêm diferenciações quanto aos sentidos,
correspondendo, respectivamente, as duas primeiras expressões ao trabalho
realizado pelos profissionais da educação e a última ao trabalho realizado por
sujeitos que pretendem produzir conhecimentos. Do mesmo modo, há autores como
Apple (1982, 1995), McLaren (1991) e, antes deles, Althusser (1985) e Bourdieu
(1989) que denunciaram o fato de o trabalho pedagógico, inserido na sociedade capitalista,
ser utilizado para inculcar valores e crenças próprios dessa formação social,
contribuindo, de alguma maneira, para reproduzir e manter a diferença entre os
grupos sociais. Desvelar esse caráter ideológico tem sido a luta dos
professores que se apresentam como críticos. Assim, quando se analisa o
trabalho pedagógico, entendendo-o como trabalho dos professores, inserindo-o no
contexto da sociedade capitalista, inevitavelmente, acaba-se por salientar que
não é um trabalho neutro, está eivado de influências ideológicas e denota
relações intensas de poderes.

Cabe, ainda, detalhar compreensões de pedagógico. Denomina-se pedagógico
o conjunto de elementos que são intercomplementares e estão imbricados em um projeto
de educação: os movimentos, os poderes, as crenças, as linguagens, as
subjetividades e as rotinas. Quando o pedagógico está inserido na escola, apresenta-se
regulamentado, institucionalizado, normatizado, além de incidirem sobre ele
determinadas relações de poderes, próprias daquele espaço e daquele tempo. O
pedagógico é, então, entendido como um elemento relacional entre os sujeitos,
não existe a priori, nem tampouco
existe senão na interação, através da linguagem, perpassando toda a dinâmica da
educação e, mais precisamente, é a centralidade do trabalho dos professores.
Conhecer tal centralidade, tendo os professores como sujeitos, significa
adentrar cada vez mais no arcabouço epistemológico que fundamenta a práxis
pedagógica, ou seja, entender e dar novos sentidos a um cotidiano, o que exige um
contínuo estudo, revisitar os teóricos da educação como fontes para comparar a
proposta de aula, redimensioná-la e, até mesmo, entendê-la. Assim, o trabalho
pedagógico se revitaliza, tornando-se planejado, teoricamente sustentado,
socialmente elaborado conforme intencionalidades e conhecimentos.

Em suma, trabalho pedagógico é a produção do
conhecimento, mediante crenças e aportes teórico-metológicos escolhidos pelos
sujeitos, que acontece em contextos sociais e políticos os quais contribuem
direta ou indiretamente. Diretamente, porque perpassam o trabalho pedagógico.
Indiretamente, quando não são explícitos, todavia, todo trabalho pedagógico é
intencional, político e, de algum modo, revela as relações de poderes que nele
interferem.

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