ADOECIMENTO

Autores/as: ADA ÁVILA ASSUNÇÃO

Diz respeito ao fato de adoecer, de apresentar uma perturbação, uma interrupção, sensação ou distúrbio de funções, sistemas ou órgãos do corpo. Expressa um conjunto de sinais e sintomas associados a qualquer processo mórbido e que formam juntos o quadro de doença que é caracterizada, no âmbito da medicina, por, pelo menos, dois critérios: (1) agente etiológico reconhecido; (2) grupo identificável de sinais e sintomas ou alterações anatômicas compatíveis. O diagnóstico tem importância fundamental para definir os processos mórbidos, assim como a avaliação das reações físicas e emocionais do paciente. A primeira identifica a doença, enquanto a segunda identifica a enfermidade. Em patologia, estuda-se a doença; no treinamento clínico, trabalha-se com a enfermidade. Para os clínicos, “as doenças, como são definidas em patologia, não existem na realidade; são abstrações, embora úteis”. A enfermidade é um processo, pois diz respeito não somente à sua reação tecidual, mas à reação do paciente. Por isso, é encarada como um acontecimento único da história do indivíduo, não acontecerá de novo exatamente da mesma maneira (DELP & MANNING, 1976). A exposição às condições de trabalho desfavoráveis está associada ao adoecimento dos docentes. Fatores ambientais e fatores organizacionais são considerados riscos à saúde. No primeiro grupo, figuram as condições do espaço físico, as condições de iluminação, as condições sonoras e climáticas, e a segurança geral do ambiente. No segundo grupo, estão incluídos os seguintes fatores: (1) volume de trabalho que pode explicar modos operatórios ou escolhas visando a regular número de tarefas e tempo necessário para realizá-las; (2) pressão temporal que pode explicar aceleração do sujeito, a fim de cumprir as metas nos tempos estabelecidos com repercussões sobre o seu funcionamento nas esferas físicas e mentais; (3) exposição às situações conflituosas, agudas, por vezes perigosas e, frequentemente, convocando intervenções de proteção social que ultrapassariam intervenções individualizadas para convocar ações a longo prazo. A doença pode ser vista como a resposta, provisória ou não, do organismo à pressão do ambiente. Habitualmente, os indivíduos não se submetem a essas pressões de maneira passiva. No entanto, nas empresas, meio autoritário, a modelagem do ambiente e a decisão sobre a organização do trabalho, incluído conteúdo das tarefas e tempos alocados, são atribuições da gestão. A não-apropriação do conteúdo do trabalho pelo trabalhador é vista como elemento determinante do processo de adoecimento. As relações entre o organismo, as condições de trabalho e as doenças são ricas de significação ideológica. Isso explica por que tradicionalmente foram abordadas em termos de segurança e de riscos bem definidos e visíveis. Se certo número de relações são perfeitamente reconhecidas, é porque foi impossível manter o silêncio devido às evidências contundentes. Exemplificando, o primeiro estudo transversal sobre as desordens mentais crônicas induzidas por solventes orgânicos foi publicado em 1955. No entanto, a relação entre tais desordens e a exposição aos agentes químicos foi mencionada em prontuários médicos, em 1865. A epidemiologia reconhece que a produção da doença no indivíduo não é um produto estático de circunstâncias específicas, em determinado momento, mas sim um produto de circunstâncias vivenciadas no curso da vida. A maioria das doenças crônicas implica em interações complexas através do tempo que influenciam a dinâmica da regulação dos sistemas. Mas a noção de adoecimento está atrelada à percepção do próprio indivíduo a respeito de suas indisposições e padecimentos, e não apenas aos sinais e sintomas que indicam um diagnóstico médico preciso e classificado internacionalmente no código de doenças, apesar da inarredável legitimidade da medicina. Fatores culturais determinam quais sinais e sintomas serão percebidos como anormais pelo sujeito. A doença, sob esse prisma, é a experiência de uma disrupção das formas e funções regulares da pessoa e implica necessariamente o sofrimento (DUARTE, 2001). Para a antropologia, não há sociedade onde a doença não tenha uma dimensão social, sendo, ao mesmo tempo, a mais íntima e individual das realidades. As interpretações da doença e da terapia variam de uma sociedade para outra, de um individuo para outro e são evolutivas numa mesma sociedade. No entanto, a esperança de cura é um aspecto invariante nas diferentes organizações humanas.

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