CICLOS PROFISSIONAIS
Estão ligados à trajetória profissional e à carreira: são diferentes fases vividas pelo indivíduo no exercício de sua profissão, da entrada no mercado de trabalho até a aposentadoria. O desenvolvimento da carreira é uma experiência cumulativa, individual e com diferentes interfaces, onde os níveis de autonomia e responsabilidade profissional crescem na medida em que a pessoa avança nos estudos e/ou adquire novas experiências. Os ciclos profissionais estão imbricados nos ciclos de vida do indivíduo, mas não são atrelados à faixa etária, pois, para além da idade, muitos aspectos marcam e influenciam esses ciclos. Assim, as características individuais, as oportunidades, os lugares, as condições do mercado de trabalho em diferentes épocas são determinantes dos ciclos profissionais, independente da idade da pessoa. Em relação a esse aspecto, Bolivar (2002, p. 52) afirma que o desenvolvimento de uma carreira é um processo que, embora pareça linear, apresenta avanços, recuos, descontinuidades ou mudanças imprevisíveis. Para esse autor, estudos que aplicam as teorias do desenvolvimento dos adultos ao desenvolvimento do professorado vêm empregando os ciclos de vida profissional como uma maneira de entender a carreira, a evolução profissional e ainda o grau de compromisso ou implicação com a mudança e a inovação (BOLIVAR, 2002, p. 50). Nesse sentido, os ciclos profissionais foram estudados por Michaël Huberman desde 1974. Em seus estudos, Huberman aponta cinco ciclos na vida profissional de professores, tomando como referência os anos de experiência: o início da carreira envolve os três primeiros anos e é marcado pela entrada e pelos contatos iniciais com a profissão. Caracteriza-se pela sobrevivência e descoberta e, nessa fase, são explorados os contornos da profissão e feitas as primeiras opções profissionais. A seguir, entre 4 e 6 anos de exercício, vem a fase de estabilização, marcada pela consolidação das habilidades, pelo compromisso com as escolhas profissionais e pela autonomia e segurança no enfrentamento das situações e na consolidação da prática pedagógica e da forma de ser professor. Essa fase é fundamental para a construção da identidade profissional. Entre 7 e 25 anos de experiência, o professor vive a fase de diversificação e experimentação, marcada pela busca de atualização e de melhores expectativas profissionais. Na luta contra a rotina e o tédio, busca novas experiências dentro e fora da sala de aula e alguns ficam atentos a novos desdobramentos da carreira e a cargos de ascensão profissional mais valorizados e mais bem remunerados do que a docência. Muitas vezes, nessa fase, o enfrentamento dos desafios, as condições de trabalho e o balanço do percurso profissional são marcados por incertezas e momentos de crise, desencadeando a fase de questionamento ou de redelineamento, entre o 15º e 25º anos de profissão, mais ou menos no meio da carreira. Há professores que não passam por essa fase de questionamento e, para muitos, ela não chega a desencadear uma crise e as incertezas são contornadas, levando a um redirecionamento da carreira. Entretanto, quando os questionamentos desencadeiam uma crise, o professor pode chegar a adoecer ou até mesmo a abandonar a profissão. O ciclo profissional que se situa entre os 25 e 35 anos de exercício engloba duas fases, que se assemelham a estados de espírito, que podem ou não ocorrer: a fase de serenidade e distanciamento afetivo e a fase de conservadorismo e queixas, as quais não são vividas necessariamente por todos os professores que estão nesse ciclo, pois dependem da natureza, do estado de espírito e do percurso profissional de cada um. Na fase de serenidade e distanciamento afetivo, a inquietação, o ativismo e a busca por novas experiências dão lugar a certa tranquilidade e distância em relação aos movimentos de classe, aos problemas institucionais e até mesmo a uma distância afetiva dos alunos. Na fase de conservadorismo e queixas, o professor é mais prudente, cético e muitas vezes resistente às mudanças e inovações propostas. Essa fase é marcada por uma atitude mais rígida em relação aos alunos, aos colegas, às propostas da política educacional e por uma nostalgia do passado. Finalmente, Huberman (1974) aponta a fase de contração, descompromisso e desinvestimento, que ocorre no final da carreira, a partir de 35 anos de exercício profissional, quando o indivíduo inicia um processo de desaceleração e desengajamento do trabalho. Há um recuo e redução gradativa do investimento profissional para dedicar-se à vida pessoal. Há casos em que esse desinvestimento se dá no meio da carreira quando a pessoa, desiludida ou cansada com as pressões da vida profissional, deixa de investir na carreira e canaliza suas energias para outra atividade. Huberman sugere que esses ciclos não são estáticos e não podem ser aplicados indistintamente a todos, pois não se pode integrar pessoas em um grupo, simplesmente pelo tempo de experiência ou pela idade, sem considerar seus antecedentes, seu percurso e sua história pessoal. Assim, os ciclos apontados por ele não são lineares, previsíveis ou explicáveis para todos os professores e cada um vive sua carreira de acordo com sua história, suas oportunidades, seus investimentos. Os ciclos profissionais são abordados, de forma mais simplificada, por Zaffani (2009), consultor em Gestão de empresas, que aponta apenas três ciclos: início de carreira, quando é necessário estruturar como se pretende construir a carreira ao longo dos anos, projetar e estabelecer metas (com prazos) e os meios necessários; meio da carreira, onde a acomodação pode ser o principal adversário do progresso profissional. Nesse ciclo, encontram-se dois tipos de profissionais: aqueles que não têm perspectivas de crescimento e sentem-se desmotivados e aqueles que estão no meio de uma carreira ascensional, sentindo-se competentes, confiantes, prestigiados. Nesse período, deve-se fazer uma reflexão sobre os ciclos passados e a forma como cada um deles foi concluído, extrair os melhores ensinamentos e projetar os novos ciclos com maior consistência, no sentido do desenvolvimento profissional. A fase final da carreira, para alguns, apresenta maior grau de complexidade, na medida em que requer o fechamento ou encerramento de uma atividade profissional. Independentemente da trajetória profissional, o encerramento de uma carreira deve representar apenas o final de um dos ciclos da vida.