CIRANDAS INFANTIS DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM-TERRA ? MST
Referem-se às práticas pedagógicas organizadas dentro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), voltadas para a educação das crianças pequenas e pequeninas, tanto dentro do acampamento de forma permanente e sistematizada, quanto as itinerantes, que acontecem em encontros nacionais do Movimento. A Ciranda Infantil é um espaço educativo, organizado com o objetivo de trabalhar as várias dimensões do ser criança Sem Terrinha como sujeito de direitos, com valores, imaginação, fantasia e personalidade em formação, vinculando as vivências com o trabalho educativo, a saúde e a luta pela dignidade de concretizar a conquista da terra, a reforma agrária, as mudanças sociais. (MST, 2004, p. 37).
Segundo SILVA (2007), as cirandas infantis, dentro do Movimento, iniciaram-se em 1996, quando, em nível nacional, iniciou-se ampla discussão, dentro do Movimento, a respeito da maneira como se estava trabalhando com a educação e cuidado das crianças de 0 a 6 anos que não frequentavam a escola. Nessa discussão, percebeu-se que as questões da escolarização obrigatória (ensino fundamental) estavam sendo amplamente discutidas e elaboradas e esse setor da educação básica estava funcionando adequadamente, porém as questões pertinentes à educação infantil não estavam sendo contempladas. A esse contingente ofertavam-se apenas locais, que mais se pareciam com depósitos inadequados em que as crianças pequenas e pequeninhas ficavam durante um período, cuidadas por algumas mães do acampamento, para que seus pais pudessem trabalhar, não recebendo uma formação adequada ou sistematizada que incluísse a questão do binômio cuidar e educar.
Após as discussões, os líderes do Movimento chegaram à conclusão de que deveriam organizar as atividades de educação infantil de uma forma personalizada, diferente das experiências das creches tradicionais e, assim, nasceram as cirandas infantis, nome tirado das alegres danças de roda nordestina, que simboliza união, força, coragem, brincadeiras, etc. (SILVA, 2007) e tem uma ligação maior com os princípios do Movimento.
Como explicitado acima, as cirandas infantis foram organizadas em duas modalidades: as cirandas permanentes, que acontecem dentro dos assentamentos, em que as crianças são cuidadas e educadas dentro dos princípios do Movimento por profissionais com formação específica para tal faixa etária. E as cirandas itinerantes, que acontecem em nível nacional e estadual para as mães que participam dos encontros do Movimento e atendem crianças de 0 a 12 anos. Estas antes aconteciam nas reuniões. Hoje elas acontecem nos cursos, reuniões, místicas. É impossível pensar em reuniões em qualquer setor sem pensar as cirandas, porque as mães militantes estão em todos os espaços: nas direções nacionais, na direção do assentamento, organização de brigadas. Tem todo um trabalho e discussão na coletiva de gênero a respeito de que todas as coordenações têm que comportar pelo menos um casal ou um homem e uma mulher. (ROSSETO, apud SILVA, 2007)
Os profissionais docentes que atuam nas cirandas permanentes são, em sua maioria, do gênero feminino, com formação ofertada pelo próprio Movimento para atuar nesse setor da educação básica, sendo a presença masculina minoria nesse tipo de ciranda. Em contrapartida, nas cirandas itinerantes, a presença masculina é maior, embora ainda não supere a feminina, principalmente na atuação com as crianças maiores de quatro anos a doze anos, realizando brincadeiras e atividades pertinentes a tais faixas etárias.
Segundo (ROSSETO apud SILVA, 2007), a metodologia pedagógica pertinente ao trabalho, tanto nas cirandas permanentes, quanto nas itinerantes, são discutidas em nível local, pois cada assentamento tem uma realidade diferente da outra, bem como um ritmo próprio de trabalho e produção que não possibilita que as mesmas experiências possam ser realizadas em estados e locais diferentes com o mesmo êxito. As metodologias de trabalho com os pequenos se constroem de acordo com as necessidades de cada grupo, assentamentos e das crianças. Ultimamente, as metodologias são muito mais receitas que nem sempre dão certo. E para nós é que não dão certo mesmo, porque são realidades muito diferentes em cada assentamento (…) é outro modo de viver, de se construir. (…) O que fazemos de igual é discutir nossos princípios, as metodologias, os nossos objetivos para o movimento. Os princípios são para todas as frentes e estão no Caderno nº 8 (1996). Mas as metodologias, o jeito como organizar as cirandas, as formas como vamos desenvolver a comunidade, envolver as parcerias, o que vai dizer é a realidade local. (ROSSETO, apud SILVA, 2007, p. 49-50).