CONDIÇÕES PSICOSSOCIAIS DO TRABALHO
As condições psicossociais do trabalho foram definidas, há mais de duas décadas, pela Oficina Internacional do Trabalho e pela Organização Mundial da Saúde, como interações entre o trabalho, seu meio ambiente, a satisfação no trabalho e as condições de sua organização, por uma parte, e as capacidades do trabalhador, suas necessidades, sua cultura e sua situação pessoal fora do trabalho, por outra (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 1986). Definição demasiado geral ainda, mas que deu conta do conjunto de evidências e experiências acumuladas que mostravam o peso dessas condições que transcendiam o material e o impacto que elas tinham na saúde e no bem-estar dos trabalhadores.
Desde então, a investigação sobre condições psicossociais do trabalho vem acumulando uma base de conhecimentos importante. A disciplina que tem gerado os conhecimentos mais difundidos na temática é a Saúde Ocupacional. Seu foco de investigação é a busca de fatores de risco que o trabalho apresenta para a saúde e o bem-estar dos trabalhadores. É desejável que, no transcurso dos próximos anos, os estudos sobre saúde ocupacional entrem em diálogo com aqueles que apontam em direção à identificação de novas subjetividades coletivas, às regulamentações laborais, à participação dos trabalhadores, às políticas e à formação docente.
Hoje é possível definir as condições psicossociais do trabalho docente como aquelas relacionadas com a forma em que se organiza o processo de trabalho, assim como as relações laborais e de poder que se estabelecem nas instituições educativas entendidas como locais de trabalho.
As condições psicossociais de trabalho docente mais estudadas nas últimas décadas têm sido: Demandas do trabalho (administração da carga de trabalho, distância entre o prescrito e o real, possibilidade/impossibilidade da tarefa; ambiguidade, contradição entre as tarefas); Controle sobre o processo de trabalho (autonomia e latitude decisional); Apoio social no trabalho (da direção, da supervisão pedagógica, dos colegas); Sentido do trabalho (propósito moral sobre o trabalho, construção de objetivos não instrumentais no trabalho), Condições institucionais para as práticas reflexivas nas instituições, clima laboral, participação na escola, gestão da relação com o entorno social problemático do trabalho (especialmente violência).
Neste período, uma das linhas de pesquisa mais promissórias em saúde ocupacional docente na Europa foi a procura de modelos explicativos do bem-estar/mal-estar docente, baseados em aspectos psicossociais do trabalho. Os modelos que contam com maior evidência de apoio a respeito do trabalho docente são o modelo de ajuste pessoa-entorno, o modelo de equilíbrio compromisso-recompensa e o modelo controle-demanda-apoio social (PARRA, 2001; KARASEK; THEORELL, 1990; VERHOEVEN et al., 2003; SIEGRIST, 1995; MONCADA; LLORENS; KRISTENSEN, 2002).
Na América Latina, a pesquisa sobre modelos explicativos do bem-estar e da saúde docente tem um nível de desenvolvimento e sistematização menor. Contudo, existem interessantes desenvolvimentos desde outras perspectivas, como o estudo das novas regulamentações e as novas subjetividades docentes emergentes (ANDRADE; GONÇALVES; MELO, 2004; FELDFEBER; ANDRADE, 2006).
Baseando-se nesse campo de conhecimentos ainda disperso, pode-se afirmar que existe um conjunto de condições psicossociais de trabalho docente na América Latina que são significativas, tanto por seu peso na explicação de fenômenos de mal-estar e doença, como pelo condicionamento que exercem sobre a constituição de novas subjetividades docentes emergentes. Essas condições são a excessiva demanda laboral (intensificação dos tempos de trabalho, exigências derivadas do trabalho com estudantes), a falta de apoio social para o trabalho docente (fundamentalmente de quadros de direção e autoridades), o sentido (possibilidade de vincular o trabalho docente com valores e objetivos não instrumentais em escolas públicas, em crise) e a gestão das relações da escola com entornos comunitários problemáticos (que muitas vezes implica em uma alta exposição ao risco de violência). Os níveis de autonomia e controle sobre o trabalho são um aspecto psicossocial do trabalho que requer maiores estudos, pois, nas novas lógicas do managment educacional, a autonomia pode converter-se em mais um fator de pressão e precariedade laboral, e não de proteção do bem-estar como o considera o modelo controle-demanda.