CRIANÇAS COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

Autores/as: KATIA REGINA MORENO CAIADO

A expressão afirma que o foco da dificuldade concentra-se na criança. Diferentes perspectivas teóricas tratam do tema e revelam diferentes concepções e modos de explicar as formas pelas quais as crianças aprendem e se desenvolvem. 1. Perspectiva inatista: a capacidade ou o potencial para aprender é dado desde o nascimento da criança e depende do amadurecimento de seu organismo. Compreende-se que há características universais de desenvolvimento. As dificuldades de aprendizagem estão associadas às causas orgânicas relacionadas ao funcionamento biológico e à capacidade intelectual, mensurada por testes classificatórios. O desafio pedagógico de ensinar depende de uma intervenção clínica associada à prescrição medicamentosa ou terapêutica. 2. Perspectiva ambientalista: afirma a supremacia das experiências e do ambiente como fonte de aprendizagem. Ambiente compreendido como o entorno familiar e social de origem em que a criança desenvolve a linguagem, adquire hábitos, comportamentos e informações. A dificuldade de aprender é relacionada às desvantagens socioculturais e linguísticas do grupo familiar e do contexto social mais próximo com os quais a criança convive. O desafio pedagógico de ensinar está em oferecer às crianças condições de recuperar a desvantagem, o déficit, o atraso ou a carência. 3. Perspectiva interacionista: afirma que a criança aprende ao agir ativamente sobre o ambiente. Na ação, ela transforma o ambiente e é transformada por ele, em trocas recíprocas. Diferentes autores darão maior ênfase aos fatores biológicos ou aos sociais, ora compreendendo o social como contexto de origem ora como contexto histórico. Na abordagem histórico-cultural, o ambiente é compreendido como produção humana na transformação da natureza, diante da necessidade de criação dos meios de subsistência. Tem como premissa que as características individuais são formadas na interação com o ambiente físico e social. O desafio pedagógico está em compreender a criança como ser concreto e histórico e em criar atividades educativas sistemáticas, intencionais, significativas e comprometidas com a socialização do conhecimento. O ponto de partida da intervenção pedagógica é o conhecimento que a criança já tem com vistas a impulsioná-la para níveis mais elaborados.

Dados oficiais sobre a escolarização no Brasil mostram que o fracasso escolar é processo histórico (PATTO, 2008; ROMANELLI, 2010). O aumento expressivo de vagas na educação básica e superior não garantiu a apropriação do conhecimento, como revelam as avaliações de desempenho escolar. Recursos públicos destinados à educação são insuficientes para formação e valorização do professor. Formação aligeirada, baixos salários, ausência de plano de carreira, jornadas longas e extenuantes revelam uma categoria adoecida e desesperançada (LEITE, 2007). Nesse quadro, explicações que culpabilizam ora o aluno, ora a família pelo fracasso escolar encontram terreno fértil em abordagens teóricas que negam a historicidade da constituição humana.

Bibliografia

LEITE, M. P.; SOUZA, A. N. (Coord.) Condições de trabalho e suas repercussões na saúde de professores da educação básica no Brasil:estado da arte. Campinas: Unicamp, 2007. Disponível em: <http://www.fundacentro.gov.br/dominio/CTN/anexos/relatorio_ unicamp_corrigido.pdf>. Acesso em 10 maio 2010.

PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar:histórias de submissão e rebeldia. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008.

ROMANELLI, O.O. História da educação no Brasil.10. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.