ESTUDANTE

Autores/as: BETÂNIA DUARTE GUIMARÃES; CRISTIANO S. A. PACHECO; LUCIANA RODRIGUES

Na Enciclopédia de Pedagogia Universitária, o termo é definido de várias formas: estudante na legislação, estudante regular, irregular, especial, egresso, entre outros. Em todos os casos, é definido como aluno(a) de uma determinada instituição aquele(a) que frequenta um estabelecimento regular de ensino. Na mesma enciclopédia, aparece o termo: aprendente, que designa um sujeito ativo e interativo no processo de construção de significados e sentidos de um determinado assunto, que estabelece relações entre os conhecimentos anteriormente construídos e os novos. Nesse caso, não há menção ao vínculo a uma instituição. Já no Houaiss, há uma definição mais ampla de estudante “que ou o que frequenta regularmente curso (de ensino fundamental ou médio, universitário, etc.) em alguma instituição ou qualquer outro curso livre, no qual se pode adquirir alguma habilidade e/ou conhecimento” (HOUAISS, 2001, p. 1268). Com base nas definições apresentadas, percebe-se uma forte tendência em vincular estudante a uma instituição. A condição de estudante estaria submetida, portanto, a uma instituição que o constitui e legitima como tal. Essa noção perpassa a própria formação de algumas entidades estudantis, sendo exemplos delas a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), que representam os estudantes regularmente matriculados no ensino superior e básico respectivamente. Assim, por via de regra, tende-se a pensar em instituições criadas ou reguladas de alguma forma pelo Estado, para esse fim, mas, conforme o próprio Houaiss menciona e o termo aprendente nos remete, poder-se-ia ampliar esse entendimento e pensar ainda em cursos livres, em estudantes de capoeira, inglês, de alguma ONG (organização não governamental) ou movimento social, etc. Dessa forma, apesar do termo na maioria das vezes ser definido como quem estuda de forma institucionalizada, pode-se ampliar o entendimento, de forma a abarcar também a pessoa que estuda em casa sem frequentar um curso, ou estuda matemática por prazer, ou ainda o pesquisador, o professor e o trabalhador que estudam para se aprimorar em sua profissão. Seguindo esse raciocínio, o empregado/trabalhador que estuda o funcionamento da máquina só seria estudante se frequentasse, por exemplo, uma instituição formal? O professor/pesquisador que continua estudando determinada temática seria estudioso, especialista, aprendente ou pesquisador? Alguns autores propõem novas formas de pensar a temática dos estudos, ressaltando, principalmente, aquele que se processa ao longo da vida das pessoas, não necessariamente ligado a uma instituição formal. No Brasil, o presidente do IPEA, Márcio Pochmann, é quem melhor define esse novo padrão, em que o papel de estudante pode adquirir novos contornos e uma dimensão mais ampla tanto conceitualmente como pelo tempo em que se aplicaria à vida de cada um. Segundo ele, a ideia de estudante confinado a certos períodos da vida e vinculado a instituições legitimadoras do processo de aprendizado estaria em condições (pelo menos técnicas) de serem superadas por um novo padrão de desenvolvimento. Entende, portanto, que é preciso o surgimento de uma nova utopia, até porque a do século passado não mais mobiliza as pessoas e, assim, ele vem apontando algumas ideias que corroboram para entender estudante de uma maneira mais ampla. Em entrevista à revista Retrato do Brasil, esse autor destaca que a constituição da sociedade pós-industrial favorece o crescimento da expectativa de vida, a diminuição do peso do trabalho em relação ao tempo total de vida. Dessa forma, argumenta que a entrega no mundo do trabalho poderia iniciar a partir dos 25 anos, com uma jornada de 12 horas semanais. Nesse novo contexto, todo processo educacional que vivenciamos hoje necessitaria ser modificado, como uma exigência do novo padrão. Assim, seria necessário romper“com a concepção tradicional de restringir a educação apenas a uma fase etária inicial e oferecer educação durante toda a vida. Trata-se de dar sentido à vida, de aprender, conhecer, desenvolver cada vez mais o trabalho autônomo, criativo e socialmente útil (…) como se diz, uma atividade que dê sentido à vida do cidadão.” (POCHAMANN, 2009, p. 37). Dessa forma, estudante pode ser entendido como aquele(a) que estuda com vínculo formal ou não, ao longo de sua vida, com objetivos diversos. As ideias propostas por Pochmann adquirem novas perspectivas nos dias de hoje, principalmente devido ao enorme avanço da capacidade produtiva e das tecnologias, a utopia passa a ser real no século XXI, ao menos no que diz respeito à parte técnica do nosso atual desenvolvimento. Talvez, a utopia permaneça no que diz respeito à vontade política e força para adotar esses novos padrões.

Bibliografia

HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

MOROSINI, M. C. (Ed.) Enciclopédia de pedagogia universitária: glossário. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006.

POCHMANN, M. Por uma nova utopia: entrevista com o Presidente do IPEA Marcio Pochmann. Retrato do Brasil, São Paulo, n.25, p.35-37, ago. 2009.