IMAGEM E EDUCAÇÃO
Conexão entre dois universos que se estrutura na aplicação (e não criação) de conceitos, e que se atravessa pela ação, pela reflexão e pela transformação de uma realidade.
Um de seus sinônimos é a perspectiva. Um processo ininterrupto de naturalização do real que captará o mundo sensível, contínuo e inteiro e o devolverá em estruturas organizadas, descontínuas, estáveis, matemáticas. (ALMEIDA, 1999, p. 139). Atua na/pela transformação da imagem em objeto de linguagem, impondo-lhe um corpo: eis como acontece a vida nas escolas, eis como se registram e documentam os episódios da história das instituições escolares, eis como se armazenam na imagem os sentidos do passado, do presente e se projeta o futuro da educação. A imagem pensou fora de nós. Depois ela passou a pensar em nós, comandada pela linguagem. Hoje, com a industrialização da imagem, a imagem pensa em nosso lugar. Havíamos feito da imagem nossa morada, doravante ela faz de nós sua morada, uma morada onde o hóspede, há muito tempo, passou a ser um convidado indesejável. (PARENTE, 2004, p. 29). Encontra expressão na narrativa que se sobrepõe, pois, ao relato da experiência que busca unidade e estabilidade dentro da pluralidade dispersiva de um caleidoscópio que gira e se reorganiza. Na realização da imagem na linguagem, a educação apodera-se da representação e aposta na impotência de pensar a diferença em si mesma, e apreendê-la pela recognição, repartição, reprodução, semelhança, na medida em que elas alienam o prefixo RE nas suas simples generalidades. (DELEUZE, 2006, p. 201).
Há, também, linhas de fuga que se enveredam por caminhos que pensam a imagem sem um viés prático desvendar, criticar, analisar, codificar e outros verbos que colocam o sujeito (pesquisador/a, professor/a, coordenado/a, diretor/a, trabalhador/a da educação) em situação de agente.
É a memória significada por Manoel de Barros, em seu livro Ensaios fotográficos, à busca do instante-nada das coisas; um fotógrafo que retrata o silêncio, o perfume e o vento, constatando: “Hoje eu atingi o reino das imagens, o reino da despalavra”. Um deslocamento radical da realidade que poderia ser representada como verdadeira. Ela pode ser narrada, compreendida e não localizada. Tradução da língua instituída como estrangeira – ou seja, uma visualidade sem imagens, tipo uma fotografia transferida pela escrita, uma imagem sem-olho. Pura fabulação que se associa a uma ideia de percepção nunca totalmente objectiva, mas sempre ameaçada por um movimento desestabilizador; se mil factores emocionais podem afectar a percepção mais trivial, é porque o objecto dado ali, em carne e osso, numa estrutura perceptiva aparentemente constante e sólida, assenta numa textura espacial não objectiva, imaginativa, que o torna precário, pronto a desprender-se do seu contexto (como o mostra a alucinação, e as perturbações da percepção). (GIL, 2005, p. 327). O desprendimento e o voo alucinante do/sobre o contexto necessita do fragmento que não será mais recomposto em mosaicos ou em patchwork. Um fragmento que ganhe a velocidade dos contatos breves e da descontinuidade espacial. Não é a transformação de uma imagem que o fragmento potencializa; é a deformação, a criação de uma zona em várias formas que não são identificadas; o comum a elas é a indiscernibilidade. É a reversão do efeito que a educação impõe à imagem como linguagem, fraturando o possível em relações que gestam a forma dos lugares, uma vez que ganham suas formas de uso que deles fazemos e da imagem que dele criamos a partir de memórias postadas em nós. Essas relações e memórias são formadas em nós tanto pelas experiências corporais diretas aquelas valorizadas nos trabalhos de campo e nos estudos do meio quanto pelas experiências mediadas pelas teorias ou por mídias diversas, notadamente as imagéticas. (OLIVEIRA JUNIOR, 2009, p. 23). A abertura para pensar o fragmento em sua espacialidade, superficial e densa, e a nossa inteligibilidade de mundo que é por ele afetada. Para isso, insistir em pensar com o conceito de realidade como intercessor; a realidade, essa palavra cuja dimensão é tão fiel à representação e à estrutura pouco móvel que deixa fluir as diferenças, e que subordina a vida à imagem do pensamento da educação, e encontrarmos na imersão das produções artísticas (literatura, cinema, arquitetura, pintura, fotografia…) de nossa época a ausência de uma intencionalidade objetiva, [que] impressiona e fixa, em nossa memória, não apenas imagens, mas também as formas como imaginamos o real. (MIRANDA; SCORSI, 2005, p. 13). O real cuja nitidez são linhas de força que conferem a precisão de(forma)nte. Vontade de ruptura com o desejo da interpretação que exigiria a profundidade, um escape da superfície deslizante, e apostar que, entre imagem e educação, a territorialização heterogênea que prolifera sentidos desse encontro pelos expressivos memória, espaço, percepção, superfície, fragmento e fabulação são as reverberações que deslocam a realidade do sintoma da interpretação.