JUVENTUDE
Fase da vida compreendida entre a infância e a vida adulta. Conjunto de pessoas com idade entre 15 e 29 anos. Mocidade. Estado de espírito ativo e dinâmico (jovial). Os autores voltados ao tema da juventude têm apontado a dificuldade de sua definição consensual pela sua forte relação com diferentes contextos históricos, políticos e sociais, além da tendência a ser delimitada a partir dos paradigmas científicos de cada área de estudos. De uma maneira geral, os estudos sobre os jovens tenderam a se dividir entre duas abordagens teóricas: a corrente geracional e a corrente classista. (PAIS, 1993) A corrente geracional, filiada às teorias da socialização desenvolvidas pela sociologia funcionalista (EISENSTADT, 1956) ou à teoria das gerações (MANHEIM, 1952), preocupa-se com a questão das continuidades/descontinuidades intergeracionais. Para os autores dessa corrente, pode-se falar de uma cultura juvenil integrada ou em conflito com valores e visões de mundo de outras gerações em uma dada sociedade. Na perspectiva da corrente classista, a questão juvenil está subordinada às relações de classe. Para esse grupo, a transição dos jovens à vida adulta está determinada pela sua origem social, o que impede abarcá-los homogeneamente sob o mesmo conceito. (BOURDIEU, 1983; WILLIS, 1991) Este debate opondo geração e classe social tende a ser superado. Segundo Dubet (1996, p. 23), trata-se de um falso dilema, uma vez que é a expressão da emergência de uma cultura de massa no seio de uma sociedade marcada pelas clivagens de classe, estando a juventude no coração desta tensão entre a formação moderna de um mundo juvenil relativamente autônomo e a idade da distribuição dos indivíduos na estrutura social. A juventude, tal como a compreendemos hoje, pode ser vista como uma produção da modernidade. Segundo Ariés (1986, p. 45 – 46), será somente a partir do século XIX que se desenvolverá o valor atualmente atribuído a ela, quando passa a tornar-se um tema literário e uma preocupação dos moralistas e dos políticos (…) como depositária de valores novos, capazes de reavivar uma sociedade velha e esclerosada. A partir daí, a juventude passa a ser uma idade favorita, na qual se deseja chegar cedo e permanecer, empurrando a infância e a velhice para faixas etárias mais limitadas. Embora reconhecendo a presença entre os antigos de uma ideia de infância e juventude, a emergência da juventude como uma categoria analítica não pode assim ser dissociada do processo de institucionalização do curso da vida que caracterizou a modernidade, o que implicou uma cronologização da vida com a definição de etapas distintas infância, adolescência, idade adulta, velhice a partir de transformações em pelo menos dois aspectos: a constituição de relações econômicas baseadas na força de trabalho livre e a consolidação do Estado Moderno, que passa a regular a vida dos cidadãos, atribuindo-lhes direitos e obrigações a partir de sua idade legal. Por juventude também se entende uma fase de transição da infância para a vida adulta, um longo processo ao final do qual um indivíduo, para realizar as funções físicas da existência do adulto em coletividade, adquire as habilidades necessárias para desempenhá-las numa forma social determinada. No entanto, essa noção tem sido cada vez mais questionada por transformações sociais recentes que apontam para uma desconexão entre as idades e os papéis tradicionalmente desempenhados nas diferentes etapas da vida. Há uma tendência ao adiamento da idade média de transposição à vida adulta, dada pelo prolongamento da escolarização, pela postergação da entrada na vida ativa, pelo adiamento na formação de um novo casal e pela permanência na casa dos pais. Constata-se também uma crescente desconexão entre as portas da entrada na vida adulta, onde os papéis de adolescentes e adultos se confundem em torno de novos estatutos profissionais e familiares: jovens que trabalham e residem com os pais ou jovens que prolongam o tempo de solteiros vivendo sós ou com amigos. Esses fenômenos são vividos de diferentes modos, de acordo com o gênero ou a origem social e estão fortemente relacionados às mudanças sociais no âmbito do trabalho, da escolarização de massas e das práticas culturais e estilos de vida dos jovens. Nesse sentido, diversos autores contemporâneos questionam a ideia de uma transição linear dos jovens para a vida adulta. (GALLAND, 1996; PAIS, 2001; SPOSITO, 2002). Alguns estudos têm privilegiado o uso de condição juvenil como uma categoria mais apropriada para designar a juventude. O termo refere-se ao modo como uma sociedade constitui e atribui significado a esse momento do ciclo da vida, no contexto de uma dimensão histórico-geracional, mas também à sua situação, ou seja, o modo como tal condição é vivida a partir dos diversos recortes referidos às diferenças sociais classe, gênero, etnia etc., o que delimita o universo de suas experiências e seu campo de possibilidades. (DAYRELL, 2007, p. 1108) ATTIAS-DONFUT (1996, p. 15) propõe que adotemos uma visão multidimensional e pluritemporal que compreenda a juventude como categoria sociológica a partir de três eixos: 1 O período de juventude, no quadro da organização do conjunto das etapas da vida; 2 A inscrição dos jovens na filiação e nas relações de gerações; 3 A formação de agregados sociais, na origem dos movimentos sociais ou de formas específicas de ações ou de expressões, suscetíveis de exercer uma influência nas sociedades. Esse modo de aproximação, segundo a autora, possibilita dar conta da realidade efervescente e essencialmente mutante dos jovens contemporâneos.