MAL ESTAR DOCENTE
É o nome mais frequente, em língua espanhola, do sofrimento psíquico dos docentes. Podemos fazer um seguimento histórico da construção do conceito.
A expressão mal-estar docente é intencionalmente ambígua Quando usamos a palavra mal-estar sabemos que algo não anda bem, mas não somos capazes de definir que é o que não anda e por quê (ESTEVE, 1994, p.12-13).
A mudança acelerada do contexto social no qual exercemos o ensino coloca, a cada dia, novas exigências. O nosso sistema escolar, massificado apressadamente nas últimas décadas, não dispõe ainda de uma capacidade de reação rápida para atender às novas demandas sociais. Quando consegue atender uma exigência, imperiosamente demandada pela sociedade, a faz com tal lentidão que, até lá, as demandas sociais já são outras. Os professores se encontram, portanto, ante o desconcerto e as dificuldades de demandas cambiantes e a contínua crítica social por não conseguirem atender essas novas exigências. Às vezes, o desconcerto surge do paradoxo de que essa mesma sociedade que exige novas responsabilidades aos professores não lhes provê dos meios que eles solicitam para cumpri-las; outras vezes, da demanda de exigências contrapostas e contraditórias.
Esteve pesquisa o tema desde antes de 1987, antecipa o sentido e descreve a situação. Leva adiante estudos empíricos na Espanha e realiza uma exaustiva revisão bibliográfica que se remonta a meados do século XX (BERGER, 1957) em que encontra antecedentes do uso do termo mal-estar docente (…. pg.24) , a expressão mais inclusiva das utilizadas na bibliografia atual para descrever os efeitos permanentes de caráter negativo que afetam a personalidade do professor como resultado das condições psicológicas e sociais em que se exerce a docência.
O mal-estar docente é um problema ético-político, basicamente um sofrimento psíquico da ordem dos afetos e das relações intersubjetivas que se vivenciam no trabalho de ensinar e em um lugar que se cai… e que não sabemos se segurá-lo com dor ou deixá-lo cair com a alegria de poder refazê-lo… em outro lugar e de outra forma. (MARTÍNEZ apud NEMIÑA, 2010).
O mal-estar docente se expressa no campo da subjetividade, categoria que nos permite rastrear o processo no nível do singular e como fenômeno coletivo. Permite desvelar representações, valores e atitudes que se constroem num marco de possibilidades que é sempre histórico.
Em O mal-estar na cultura, Sigmund Freud esclarece o caráter estrutural de um mal-estar que advém da tensão produzida pela constante inadequação entre desejo e cultura, ou seja, entre os nossos desejos e as possibilidades que o universo cultural outorga para sua realização.
A relação com Outros com o Outro é a maior fonte de sofrimentos que se expressam com a forma de mal-estar. Quando não se pode resolver por mecanismos de sublimação e/ou criativos, produz-se a formação de sintomas. Ansiedade, irritabilidade, insônia, contraturas, etc., todos emergentes de uma insatisfação que se torna perigosa pela impotência e desamparo que se apossa do sujeito.
É assim que temos definido essa situação como um grito no corpo ou a urgência de tornar-se louco/a. Quando o sintoma transcende a intimidade do sujeito, manifesta-se em um problema do processo de saúde-doença ou de disciplina laboral.
Seu trâmite canaliza uma crise subjetiva e/ou institucional. Resolvido habitualmente através de um tratamento médico psicológico, com ou sem licença laboral, ou com uma sanção. Em geral inadequados e discriminatórios, não colaboram para superar a situação singular ou coletiva.
É importante citar a definição de Wanderley Codo como desistência para descrever a síndrome de burnout em educação (CODO, 1999), muito próxima ao mal-estar docente. É pertinente, já que o docente sente tensão entre afrontar ou desistir diante de uma situação laboral que não pode resolver nem de forma individual nem em forma coletiva.