MISSÃO DOCENTE
Significado originário de chamado do Senhor para, missão frequentemente religiosa, cristã, em que o professor seria um sacerdote, predestinado e renunciando em favor dos indivíduos desfavorecidos. A palavra sacerdócio remete a sacrifícios, aceitação e até mesmo submissão, que envolvem eterno doar-se, sem receber nada em troca (CUNHA, 2009). Nesse sentido, a gênese da profissão docente estaria em congregações religiosas que se transformaram em congregações docentes. Por exemplo, entre os séculos XVII e XVIII, os jesuítas e oratorianos foram configurando um corpo de saberes e técnicas assim como um conjunto de normas e valores específicos da profissão de professor, cuja organização foi influenciada por crenças e atitudes morais e religiosas identificando a profissão como vocação e sacerdócio (NÓVOA, 1992). Desde a chegada dos jesuítas ao Brasil, no século XVI, até início do século XX, ser professor era missão e/ou dom, acreditando-se que as pessoas nascem para exercer essa atividade. O professor cristão, ao entregar-se à missão de professor, tem sentimentos, por um lado, de prazer, gosto, alegria e, de outro, de insatisfação por não ter se dado à vocação o quanto desejava. Essa experiência não tem origem na atividade profissional e competente do trabalho, mas na percepção de realizar-se no mais profundo de seu ser, envolvido pela presença de Deus (LIBÂNEO, 1998). O discurso ligado à missão tende a valorizar mais a vocação para ensinar do que o preparo para ensinar e, nesse caso, a educação passa a não ser uma atividade laica. Os professores não são vistos como profissionais que estudaram para poderem exercer seu ofício e produzirem conhecimento, mas sim como sacerdotes que desempenham diversas tarefas com dedicação e humildade, sendo dotados de uma força superior transcendente que os guia em sua missão. Sendo assim, em algumas situações, reconhece-se mais o sacrifício diante do exemplo de abnegação do que a própria competência do professor. Ser padre (professor, portanto) é vocação, não uma função. Particularmente no Brasil do século XX, educar as massas pode ser entendido como missão civilizadora, mesmo correndo-se o risco de vulgarização do conhecimento quando o professor é afastado de sua função intelectual (LUIZ, 2009). A imagem do professor como sacerdote vocacionado permanece viva em grande parte do professorado brasileiro neste início do século XXI, sobretudo entre as docentes das séries iniciais do Ensino Fundamental, conforme apontam diferentes pesquisas realizadas nos últimos vinte anos (ALVES, 2006; ALVES-MAZZOTTI, 2004; COTA, 2007; NUNES, 1999, entre outros). Para essas professoras, sua missão envolve amor e dedicação, que se tornam marcas identitárias e acabam por se constituírem entrave aos esforços pela profissionalidade docente. Sua atuação é fundada no dom e na vocação, que implicam na escolha do magistério e em ligações afetivas nas relações pedagógicas. Uma mudança dessa concepção pode ocorrer com o reconhecimento da profissão de magistério, o que sugere urgência de um estatuto profissional, de um plano de carreira, do estabelecimento de piso salarial e de investimentos na formação de recursos humanos (SOUSA, 2009, p. 2). Na essência de seu entendimento, se o termo missão docente não privilegia a referência a algum conhecimento sobre o desenvolvimento do aluno durante o processo de ensino-aprendizagem e sim o sacerdócio, nesse caso, o professor se afasta do cerne de seu papel profissional enquanto mediador da construção do conhecimento pelo aluno.