OFICINA BIOGRÁFICA
A prática das histórias de vida em formação se apoia na ideia da apropriação de sua história pelo indivíduo que faz a narrativa de sua vida. Por seu poder de configuração, pelo princípio de coerência e de continuidade que ele introduz na representação da vida, a narrativa autobiográfica dá acesso às formas e aos valores segundo os quais um indivíduo constrói o sentido de sua experiência no seio do mundo social. É nesse contexto de autoformação que o método das histórias de vida foi definido, de acordo com uma fórmula frequentemente retomada, como processo de apropriação de seu poder de formação.
Os procedimentos de formação conduzidos sob a forma de oficinas biográficas insistem em considerar a dimensão da narrativa de si como construção da experiência do sujeito e como espaço de formabilidade aberto ao projeto de si (DELORY-MOMBERGER, 2008). Dirigindo-se a grupos de cerca de doze pessoas em situação de orientação ou de reorientação universitária ou profissional, a oficina biográfica tem como objeto a criação de condições concretas que permitirão que cada participante construa e se aproprie da história de seu percurso de formação e faça emergir, a partir dessa biografia formativa, um projeto profissional. Para dar uma ideia concreta desse dispositivo, descrevemos rapidamente aqui as etapas que constituem sua trama.
O primeiro tempo é um tempo de informação sobre o procedimento, os objetivos da oficina e os mecanismos trabalhados. O trabalho proposto sobre a história de vida é considerado na perspectiva do projeto profissional que ele ajudará a definir. O objetivo da oficina é precisamente o de dar corpo a essa dinâmica intencional, reconstruindo uma história projetiva do sujeito e desencadeando, a partir dela, projetos submetidos ao critério de aplicabilidade.
O segundo tempo corresponde à elaboração, à negociação e à ratificação coletiva do contrato biográfico. Essa fase representa um momento fundador no trabalho autobiográfico: o contrato fixa as regras de funcionamento, enuncia a intenção formativa, oficializa a referência a si e ao outro no grupo como uma relação de trabalho. Esses dois primeiros tempos acontecem em um dia. Um prazo de duas a três semanas é estabelecido antes de se passar às fases seguintes.
O terceiro e o quarto tempos, que acontecem em dois dias, são consagrados à produção da primeira narrativa autobiográfica e à sua socialização. Um trabalho de exploração progressiva tem início, baseado em suportes diversos: árvore genealógica, mandala, projetos parentais, brasão, etc. O formador apresenta, em seguida, os eixos que orientam a narrativa autobiográfica: pede-se aos participantes que retracem seu percurso educativo, evocando as figuras pessoais, as etapas e os acontecimentos desse percurso em seus múltiplos aspectos (educação familiar, escolar, paraescolar, experiencial); nas reconstruções de percursos profissionais, a orientação diz respeito às primeiras experiências de trabalho remunerado, às figuras e aos encontros que exerceram influência nas decisões profissionais. Essa primeira narrativa, de cerca de duas páginas, representa o esqueleto da autobiografia que virá. As histórias contadas são faladas (e não lidas) e questionadas em grupos de três pessoas (tríades). A finalidade dessa primeira narrativa é constituir uma marca para a escrita da segunda narrativa autobiográfica, que é o objeto de uma encomenda para o encontro seguinte, duas semanas mais tarde.
O quinto tempo é o da socialização da narrativa autobiográfica. Cada um apresenta sua narrativa no grupo e os participantes apresentam questões, sempre procurando não dar uma interpretação: o trabalho comum de elucidação narrativa visa ajudar o autor a construir sentido em sua história de vida e os narratários devem compreender essa história do exterior, como eles fariam com um romance ou um filme. Um escritor (o escriba), escolhido pelo narrador, toma nota da narrativa e das intervenções dos participantes. Um tempo é previsto, ao final da sessão, para permitir a cada escriba escrever na primeira pessoa a autobiografia de seu autor e essa narrativa é entregue a seu emissor/destinatário. A partir do script proposto, cada participante procede, então, fora da oficina, à redação de sua autobiografia sem limites de extensão ou de forma.
O sexto tempo é um tempo de síntese, com duas semanas de distância. No âmbito das tríades, o projeto pessoal de cada um é coexplorado, destacado e nomeado. Na reunião coletiva, cada participante apresenta e argumenta seu projeto. Um último encontro, que acontece um mês após o fim da sessão, faz o balanço do impacto da formação no projeto profissional de cada um.
As questões envolvidas em tal dispositivo podem ser sintetizadas sob dois aspectos complementares. Convém, primeiramente, distinguir claramente o procedimento da oficina biográfica de um procedimento terapêutico. Os procedimentos de objetivação das produções individuais e o caráter coletivo do trabalho garantem o objetivo estritamente formativo do procedimento desenvolvido. Se as oficinas biográficas buscam um efeito transformador, ele não deve ser confundido com o efeito de um trabalho introspectivo realizado no contexto de uma psicoterapia. O projeto de si que implica o trabalho biográfico se desenvolve no contexto da publicidade de uma narrativa de vida que postula uma inteligibilidade partilhada do mesmo e do outro. O estatuto declarado das narrativas autobiográficas produzidas coletivamente as define de forma explícita como materiais de trabalho para um projeto profissional.
Segundo aspecto: a prática das oficinas biográficas mostra que a eficácia da história de vida em formação está ligada à dimensão de socialização inerente à atividade biográfica. As situações de formação que exigem a reflexividade biográfica são casos particulares deliberados e organizados , de ativação do processo de biografização pelo qual os indivíduos se inscrevem subjetivamente nos contextos e ambientes sociais (Delory-Momberger, 2005). Na narrativa reconstruída de seu próprio percurso, o indivíduo se faz intérprete de si mesmo: ele explicita as etapas e os campos temáticos de sua própria construção biográfica. Mas ele é também o intérprete do mundo histórico e social que é o seu: ele constrói suas figuras, suas representações, seus valores. O poder da narrativa biográfica, o espaço de formação cujas vias ele abre resultam da forma histórica e socialmente construída que ela permite dar às experiências individuais, linguagens partilhadas nas quais ela faz ouvir histórias singulares. É apoiando-se nesse processo de gênese sócio-individual que os procedimentos biográficos podem abrir o espaço de formabilidade necessário à emergência e à constituição de um projeto.