PROGRAMA ESCUELA NUEVA (Programa Escola Nova)
Denomina-se Escola Novaum movimento surgido no final do século XIX e começo do XX como crítica à educação tradicional baseada na memorização, no autoritarismo, na disciplina e no formalismo. Motivado pelas transformações sociais e econômicas que antecederam e deram origem à Primeira Guerra Mundial e à aparição de novas concepções do mundo que reivindicaram o pragmatismo, o positivismo e o empirismo no campo das ciências e da filosofia, esse movimento propôs uma nova educação baseada nas crianças, no desenvolvimento de suas capacidades, em seu reconhecimento como sujeitos ativos do ensino e núcleos da aprendizagem, com o apoio dos aportes da biologia e da psicologia. Concebeu a escola como o lugar que prepara as crianças para viver em sociedade, dado que ela mesma é uma síntese da comunidade na qual é possível aprender fazendo. Como expressão da modernidade na concepção educativa, a escola nova também foi conhecida como escola ativa, escola moderna e escola do trabalho, denominações que enfatizam a necessidade de romper o isolamento da escola da sociedade e de pôr em contato as crianças com a vida cotidiana.
Entre os pedagogos que desenvolveram e consolidaram os variados enfoques da escola nova, pode-se citar: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), Friedrich Froebel (1782-18529), León Tolstoi (1828-1910), Edouard Desmolins (1850-1907), Georg Kershensteiner (1854-1932), John Dewey (1859-1952), Maria Montessori (1870-1952), Jean-Ovide Decroly (1871-19329, entre outros.
Essa corrente pedagógica se projeta até os nossos dias em diversas modalidades, com transformações e adequações que apresentam uma ampla variedade.
O Programa Escola Nova é uma delas. Originou-se em Pamplona, Norte de Santander, Colômbia, no ano 1975, a partir da experiência das escolas unitárias promovidas pela UNESCO, em 1962, como programa piloto para aumentar a cobertura nas zonas rurais dos chamados países em vias de desenvolvimento. Surgiu como uma inovação local para escolas primárias e se converteu em política nacional no final da década de oitenta. Passou de estar presente numas poucas escolas em 1976 a uma cobertura próxima às 20.000 escolas rurais da Colômbia. Estendeu-se a escolas urbanas marginais, à educação básica secundária e aplicou-se a populações deslocadas afetadas pelo conflito armado com o apoio do Banco Mundial BM e do Banco Interamericano de Desenvolvimento BID a países como Guatemala, Salvador, Honduras, Chile, Filipinas, Guiana, Uganda, para mencionar alguns.
O programa foi desenhado para oferecer educação primária completa e melhorar a qualidade das escolas rurais da Colômbia, especialmente as escolas multisseriadas, ou seja, aquelas nas quais o docente rural deve ensinar simultaneamente a crianças que se encontram em distintas séries da escola primária. Baseia-se na autoaprendizagem das crianças mediante o uso de guias especialmente desenhados para o estudante, na aprendizagem colaborativa e no apoio entre os alunos. A promoção flexível permite que as crianças possam avançar segundo seu próprio ritmo, evitando sua reprovação por não ter adquirido os conhecimentos e habilidades expressados no currículo e sem se importar com os limites impostos pelo calendário do ano escolar.
A Escola Nova é um sistema de educação primária que integra estratégias curriculares, administrativas, comunitárias e de capacitação para os docentes. Promove nos estudantes um processo de aprendizagem ativo, reflexivo e participativo mediante guias e rincões de aprendizagem, combinados com diversas ferramentas de governo escolar, assim como valores e atitudes cooperativas e democráticas, junto com formação básica em matemáticas, língua e ciências sociais e naturais. O professor age mais como guia e facilitador que como transmissor de informação e enfatiza seu caráter de líder da comunidade; estimula o trabalho no entorno rural e recebe formação específica para seu desempenho na escola multisseriada. O programa também fortalece a relação de colaboração dos dirigentes e administradores com os docentes e a solidariedade com as comunidades educativas, as quais se integram de diversas maneiras aos processos de formação.
Esses processos se reforçam com a existência de escolas demonstrativas que apresentam os desenvolvimentos exitosos do programa e servem de exemplo às demais.
O programa tem sido avaliado positivamente em diversas oportunidades (COLCIÊNCIAS, Instituto SER, Banco Mundial, Grupo Norueguês IMTEC, Departamento Nacional de Planejamento, FEDESARROLLO, UNESCO, entre outros).
As observações críticas se referem a todos os componentes do programa que são permanentemente objeto de ajustes e melhoras. Revisão dos guias para estudantes e docentes; adaptação dos conteúdos e as atividades aos contextos específicos das crianças rurais; déficits na capacitação dos docentes; debilidade dos governos escolares; limitações em lectoescrita por adoção de métodos tradicionais de alfabetização por parte dos docentes; coexistência das inovações com práticas tradicionais; tensões com as autoridades educativas, especialmente com o Ministério de Educação Nacional; sinais de envelhecimento do programa; problemas derivados do crescimento e da expansão do programa que se traduzem em limitações de efetividade e eficiência, diminuição dos tempos de capacitação dos docentes, demora na entrega das guias, burocratização para a tomada de decisões, dificuldades para um adequado monitoramento e acompanhamento.
Rosa María Torres chamou a atenção sobre um aspecto central dessas limitações: o referido à replicabilidade do programa. A tensão entre a estandardização do modelo e as particularidades dos contextos de aplicação, tanto na Colômbia como nos demais países que o tenha adotado, constitui uma das principais dificuldades para sua implementação. A noção de escola rural constitui uma generalização problemática, dadas as particularidades que esta pode assumir dependendo das regiões em que se localiza e as populações que a frequentam (por exemplo, indígenas e afrodescendentes).