REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA PRÁTICA DOCENTE
É uma visão de mundo ou conhecimento que professores elaboram coletivamente sobre o conjunto de suas ações, crenças e atitudes, também definida como teoria do senso comum acerca do trabalho que os docentes realizam ou deveriam realizar, de acordo com seu próprio sistema sócio-cognitivo. Trata-se de um saber funcional, orientado para a ação, com a finalidade de permitir aos professores orientarem e justificarem suas práticas educativas no cotidiano. O termo representação social deve ser aplicado exclusivamente para uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos no quadro da vida cotidiana. Abric (1994) reforça essa ênfase funcional, reafirmando a posição de Moscovici, segundo a qual o mais importante na representação social é que ela produz e determina comportamentos. Em outros termos, pode-se dizer que as representações são concebidas como «pequenas teorias particulares», elaboradas pelos sujeitos para explicar seu universo, pode-se também falar de verdadeiros «guias de leitura da realidade» (MOLINER, 2005). Nesse caso, guias de leitura da realidade escolar e/ou educacional. A realidade é, então, reconstruída e integrada pelos sujeitos dentro de um sistema de valores vinculado a sua história e ao contexto ideológico. Assim, as representações permitem aos sujeitos dar um sentido às suas condutas e compreender o meio social em função de seu próprio sistema de referências. Enquanto modalidade de pensamento social, as representações são determinadas ao mesmo tempo pelos sujeitos (sua história, suas vivências), pelas características do objeto social (como, por exemplo, o aluno, as disciplinas ou a escola), pelo sistema social e ideológico e pela natureza dos vínculos entre os sujeitos e este mesmo sistema. A partir do momento em que uma representação de um objeto social específico é elaborada por um determinado grupo, ela responde a quatro funções essenciais: a) função de saber, que permite aos sujeitos de compreender e explicar a realidade; b) função identitária, que define a identidade dos grupos, permitindo assim a defesa da especificidade destes mesmos grupos; c) função de orientação, que guia os comportamentos e as práticas; d) função justificativa, que permite aos sujeitos de justificarem, a posteriori, as tomadas de posição e os comportamentos. A representação social de uma práxis é complexa e comporta, no mínimo, quatro componentes (CODOL, 1969), a saber, as representações sociais: do papel do professor, do aluno, da tarefa (ensinar/aprender, por exemplo) e do contexto (o ambiente escolar). Uma vez que cada um desses elementos se transforma, também a representação estará sujeita a se transformar. É um saber que depende do quanto cada grupo se percebe como identificado ou não com a profissão, portanto não pode ser confundido com a percepção do emprego de professor. Ela se distingue do conhecimento científico existente sobre as práticas docentes, embora receba do próprio campo das Ciências da Educação o substrato que lhe servirá de base. Ao mesmo tempo em que essa representação se inspira nos conhecimentos pedagógicos, também deles se distancia, à medida que, para realizar suas tarefas educativas no cotidiano, ou na prática, os professores devem distinguir o universo social onde vivem os grupos sociais reais com seus diferentes interesses e ações do universo organizado pelas rígidas leis de produção do conhecimento científico, ou seja, do universo dos conhecimentos reificados. No caso específico da representação social das práticas docentes, pode-se alertar para o fato que não existe consenso nas doutrinas pedagógicas que fundam a formação dos professores (MAZZOTTI, 2008), criando-se uma grande variabilidade de representações e práticas docentes, desde a infiltração do conhecimento científico existente na área. A representação social da prática docente funciona como uma forma de resistência (CAMPOS, 2005) da identidade dos professores face à impersonalização e à objetivação (positivização) que o conhecimento científico necessariamente busca impor. Os indivíduos têm a necessidade de compreender a realidade social e de se orientar dentro dela; para tal, eles elaboram teorias explicativas, teorias ingênuas, teorias do senso-comum através das quais indivíduos (e grupos) dão significado à realidade social. O protótipo destas teorias é o chamado senso-comum (MOSCOVICI, 1962, p. 72). Assim, vários são os temas envolvidos diretamente nessa representação, os quais podem ser focalizados conforme o interesse de estudo ou intervenção, podemos citar como exemplos: a função ou o papel de professor; o perfil ou características dos alunos; os diretores e sua ação, a profissão docente; a disciplina; os conteúdos escolares; os chamados saberes docentes; a organização escolar; o currículo; o estudo, a avaliação escolar, a identidade docente, etc. Com relação à formação e ao trabalho docente, Alves-Mazzotti (2008) afirma que por suas relações com a linguagem, a ideologia e o imaginário social e, principalmente por seu papel na orientação de condutas e das práticas sociais, as representações sociais constituem elementos essenciais à análise dos mecanismos que interferem na eficácia do processo educativo (ALVES-MAZZOTTI, 2008, p.60-61).