TRABALHO PRODUTIVO E TRABALHO IMPRODUTIVO

Autores/as: LUCÍLIA MACHADO

 

Esses conceitos decorrem do tipo de relação que os trabalhadores mantêm com a produção capitalista, da forma social das relações sociais de produção em que o trabalho deles se realiza. Eles não têm nada a ver com o conteúdo do trabalho em si (por exemplo, se é um trabalho educacional ou um trabalho fabril), da natureza do produto (por exemplo, aulas, material didático ou caminhões) ou da destinação do trabalho como trabalho concreto (por exemplo, promover o desenvolvimento de pessoas ou melhorar a logística da distribuição das mercadorias). Trabalho produtivo e trabalho improdutivo não dizem respeito, portanto, à especialidade particular do trabalho (se é mais manual ou mais intelectual), nem tão pouco ao valor de uso do produto de um trabalho (se é mais útil ou menos útil para as pessoas ou para a sociedade). Retomando, esses conceitos decorrem, cada um, de tipos diferentes de relação que os trabalhadores estabelecem com a produção capitalista. No caso do trabalho produtivo, a relação social de produção que o caracteriza se refere à produção de mercadorias. Logo, “… trabalhador produtivo é aquele cujo trabalho produz mercadorias; e mais precisamente, esse trabalhador não consome mais mercadorias do que produz, do que custa seu trabalho.” (MARX, 1980, p. 143, grifos originais). Se um trabalhador repõe com seu trabalho somente o equivalente ao seu salário, ele não é um trabalhador produtivo para o capitalista. Nesse caso, segundo Marx, seria “… como se o capitalista tivesse comprado a mercadoria que esse trabalhador produz” (MARX, 1980, p. 141), sem que houvesse a transformação do dinheiro investido na produção em capital. Para o capitalista, trabalho produtivo é o que produz a riqueza imediata e isso significa que “… só é produtiva a força de trabalho que produz valor maior que o próprio.” (MARX, 1980, p. 133). Portanto, aplica-se o conceito de trabalho produtivo quando o trabalhador cria um excesso de valores acima da sobra de valores que consome e isso ocorre quando este produz valor maior que o seu custo, ou seja, mais-valia, capital, transformando sua própria força de trabalho em capital, em condição necessária à geração de lucros para o capitalista, em requisito à produção de capitalistas. Segundo Marx, “dessa espécie de trabalho assalariado produtivo depende a existência do capital.” (1980, p. 133). Portanto, trabalho produtivo é todo aquele que se realiza em mercadoria e que se troca por capital, o capital variável. No caso do trabalho improdutivo, a relação social de produção que o caracteriza diz respeito, do ponto de vista capitalista, apenas à produção de valores de uso sem que estes portem valores de troca, por detrás dos quais se esconde o valor, o trabalho social materializado na mercadoria. É um trabalho que se realiza na satisfação das necessidades dos seus compradores; ele não se finaliza em mercadoria vendável. É um trabalho que tem seu valor social, porém se revela improdutivo quando se está em questão a produção da riqueza imediata. É um trabalho que é consumido sem permitir que o comprador recupere o que nele foi despendido, pois ele não tem a propriedade de acrescentar mais valor (mais-valia). Quando se fala em trabalho improdutivo, diz-se de despesa, fala-se em dispêndio de renda e não de capital. “Isso não impede, como observa A. Smith, que o valor dos serviços desses trabalhadores improdutivos seja determinado ou determinável de modo igual (ou análogo) ao dos trabalhadores produtivos: isto é, pelos custos de produção necessários para sustentá-los ou produzi-los.” (MARX, 1980, p. 139). Assim, um trabalhador improdutivo pode ter o valor de seus serviços num nível mais alto do que o valor dos serviços de um trabalhador produtivo, se os custos investidos na educação e qualificação daquele forem maiores. Como se trata de um trabalho que, por seu meio, não permite renovar o fundo pelo qual é pago, já que é trocado por renda e não por capital, também se diz que o trabalhador produtivo consome mais do que reproduz. Para ilustrar os conceitos acima expostos de trabalho produtivo e trabalho improdutivo, seguem exemplificações de Marx. A primeira: “… um ator, por exemplo, mesmo um palhaço, é um trabalhador produtivo se trabalha a serviço de um capitalista (o empresário), a quem restitui mais trabalho do que dele recebe na forma de salário, enquanto um alfaiate que vai à casa do capitalista e lhe remenda as calças, fornecendo-lhe valor de uso apenas, é um trabalhador improdutivo. O trabalho do primeiro troca-se por capital, o do segundo, por renda. O primeiro trabalho gera mais-valia; no segundo, consome-se renda.” (MARX, 1980, 137). A segunda: “Um escritor é trabalhador produtivo não por produzir ideias, mas enquanto enriquecer o editor que publica suas obras ou enquanto for o trabalhador assalariado de um capitalista.” (MARX, 1980, p. 137). A terceira: “… os cozinheiros e os garçons de um hotel são trabalhadores produtivos, porquanto seu trabalho se converte em capital para o dono do hotel. Essas mesmas pessoas no papel de criados são trabalhadores improdutivos, porquanto, ao invés de fazer capital com seus serviços, neles gastam renda.” (MARX, 1980, p. 138).

Bibliografia

MARX, K. O capital: Livro 4: teorias da mais-valia:história crítica do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.