UNIVERSIDADE
As definições e concepções sobre Universidade têm sido múltiplas e muitas vezes não coincidentes ao longo da história e segundo a organização dos sistemas educativos, por regiões, por países e por tradição acadêmica.
Em geral, considera-se como o terceiro nível dos sistemas educativos, após a educação básica, elementar ou primária e do ensino secundário ou médio. Constitui a instituição de maior nível acadêmico do sistema de educação.
A universidade é uma instituição que nasceu na Idade Média, a partir das comunidades autônomas de caráter acadêmico de professores e estudantes, com o objetivo de elaborar e difundir o conhecimento. Muitas das atuais universidades europeias têm essa origem.
Desde esses princípios até a atualidade, seguiram diversos processos de evolução e transformação, mas algumas de suas características principais se mantêm.
Em termos gerais, podem-se distinguir três grandes tendências: a do modelo anglo-americano vigente na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos da América , o napoleônico procedente da França, com vigência no âmbito latino-europeu e o humboldtiano, nascido na Alemanha, com vigência em outros países do norte europeu.
O modelo anglo-americano com maior vigência nos Estados Unidos da América responde à estrutura de todo o sistema educativo norte-americano por suas características de descentralização e de forte protagonismo de cada comunidade local; o modelo humboldtiano, com ênfase na concepção do estudante como investigador autônomo e com um papel decisivo da cátedra e do catedrático; e o napoleônico, que enfatiza a formação em cada profissão e dentro do qual, portanto, as universidades têm se organizado a partir de fortes faculdades de caráter profissional. Por exemplo, a França praticamente não tinha universidades até depois da reforma institucional promovida pelos acontecimentos de maio de 1968. É claro que a caracterização dessas grandes tendências pode constituir-se numa simplificação diante da diversidade de modelos de cada país e de cada região europeia. É importante apontar que, no Caribe Anglófono, a influência predominante tem sido a da universidade inglesa.
A Europa atravessou uma importante reforma universitária Processo de Bolonha tentando aplicar, em praticamente todo o continente, um modo único, que a aproxima do modelo anglo-americano quanto à organização dos estudos.
Na América Latina, desde o século XVI, têm se criado universidades por parte dos Reis da Espanha, com a aprovação do Vaticano. Algumas delas estão perto de completar cinco séculos. Portanto, na maioria dos países, a influência mais importante tem sido a da universidade espanhola, à qual, a partir de princípios do século XX, somou-se, em alguns países, como a Argentina, a da universidade francesa. Portanto, o modelo predominante é o napoleônico; em alguns países da América Central e do norte da América do Sul, registrou-se a partir dos anos 1960 uma influência do modelo anglo-americano.
Note-se que a Reforma Universitária de 1918 de Córdoba, Argentina teve uma forte influência em quase todos os países da América Latina com seu modelo de universidade autônoma, governada por seus claustros, fortemente vinculada à sociedade e de caráter predominantemente científico. A quase cem anos desse importante Movimento Reformista, muitos de seus postulados permanecem ainda sem se realizar.
No ano de 1950, havia, na América Latina, apenas 75 universidades, quase todas públicas; em 1975, eram 330 e, em 1985, já eram 450. Esse número se multiplica várias vezes desde finais da década de 80 e princípios da década de 90, já que, por influência do modelo neoliberal, produz-se um processo muito forte de privatização da universidade na América Latina com a implantação de modelos muito heterogêneos e de níveis muito díspares de qualidade. Na última década, a matrícula da educação superior na região cresceu com uma taxa anual de 6% maior que a dos outros níveis de ensino , mas foi de 8% para as instituições privadas e de apenas 2,5% para as públicas. Atualmente cerca de dois terços da matrícula de educação superior está em instituições privadas, de níveis muito díspares de qualidade e com modelos institucionais diversos, sem modificar substancialmente seu caráter predominantemente napoleônico.
Na América Latina, a formação docente tem sido responsabilidade das universidades, em muitos países, e de instituições especializadas de educação superior de caráter não universitário em outros, como é o caso da Argentina e o Uruguai. Atualmente o papel das universidades em relação com a formação e capacitação dos docentes dos níveis primário/básico e médio/secundário é um tema de debate, outro tema em debate é o da formação docente dos professores universitários.
Como já se apontou anteriormente, na Europa, a quase totalidade dos países (atualmente 46) têm adotado um modelo universitário praticamente único diferente do que historicamente se registrava denominado Processo de Bolonha, porque se originou por iniciativa dos ministros de educação de 29 países europeus nessa Universidade, em 1999. É um modelo relativamente similar ao anglo-americano com três anos de estudos de grado (quatro para a Espanha), um ou dois de mestrado e dois ou três de doutorado; com um sistema de créditos transferíveis similar para possibilitar a mobilidade dos estudantes; e desenhos curriculares baseados nas competências genéricas e específicas requeridas. Os europeus assumiram esse novo modelo com a intenção de reformar e modernizar a universidade tradicional, contribuir ao processo de integração e para possibilitar a concorrência com a universidade norte-americana na recepção de estudantes de outros continentes, em particular da Ásia e da África. O processo de reforma que segundo o estabelecido no ano 1999 deveria ter concluído no ano 2010 – está em pleno desenvolvimento, com as previsíveis dificuldades de todo processo de mudança, porém com forte apoio da Comissão Europeia, dos governos, dos conselhos de reitores de cada país e da maioria de suas universidades.
Desde as Cúpulas Presidenciais da América Latina, do Caribe e da Europa (ALCUE) e de Ibero América, tem-se formulado propostas para criar espaços comuns de educação superior na América Latina e no Caribe-Europa (ALCUE) e no Ibero-americano, entre América Latina, o Caribe e a Europa, que promovem uma convergência dirigida e organizada desde a Europa, sem levar em conta as características e demandas da universidade na América Latina, particularmente sua autonomia institucional.
É por isso que, desde sua autonomia, as universidades devem propor-se a atender entre outras algumas das prioridades político-educativas que se apresentam na América Latina: assegurar o ingresso e permanência até a graduação com bons níveis de qualidade aos estudantes provenientes dos setores sociais de menor renda, mediante um processo de reforma de suas estruturas institucionais, organizativas e pedagógicas; atender aos requerimentos da sociedade buscando novas modalidades de articulação e de participação; reformar os processos pedagógicos e formar profissionais adequadamente capacitados para a docência universitária; assumir-se como terceiro nível do sistema educativo e cooperar para o melhoramento da qualidade dos níveis primário/básico e secundário/médio, particularmente através da formação dos docentes; tender à/visar a articulação e convergência de sistemas universitários no nível nacional, sub-regional e de toda a América Latina, através da criação de um espaço comum de educação superior. Para a Conferência Regional de Educação Superior em Cartagena de Índias, em junho de 2008, o IESALC/UNESCO elaborou um Glossário da Educação Superior (MESALC) a partir de um processo de consultas que abarcou toda a região. Em primeiro lugar, o IESALC reuniu todos os glossários sobre educação superior disponíveis na América Latina e Caribe, que fez revisar solicitando contribuições para cada país e para cada termo por parte de especialistas de toda a Região. A continuação, um Consultor Norberto Fernández Lamarra integrou todas as contribuições e deu a forma final ao Glossário, que foi apresentado na CRES. Pode ser consultado no sítio web do IESALC/UNESCO (www.iesalc.unesco.org.ve). Os termos disponíveis no Glossário são os seguintes: universidade, educação superior, nível superior, instituição de educação superior, instituto universitário, licenciatura/ bacharelado, programa de pré-grado (ou grado), de pós-grado, de especialização, de mestrado e de doutorado, educação de pós-graduação, doutorado, docência, extensão, entre outros.