UNIVERSIDADE

Autores/as: NORBERTO FERNANDEZ LAMARRA

As definições e concepções sobre Universidade têm sido múltiplas – e muitas vezes não coincidentes – ao longo da história e segundo a organização dos sistemas educativos, por regiões, por países e por tradição acadêmica.

Em geral, considera-se como o terceiro nível dos sistemas educativos, após a educação básica, elementar ou primária e do ensino secundário ou médio. Constitui a instituição de maior nível acadêmico do sistema de educação.

A universidade é uma instituição que nasceu na Idade Média, a partir das comunidades autônomas de caráter acadêmico de professores e estudantes, com o objetivo de elaborar e difundir o conhecimento. Muitas das atuais universidades europeias têm essa origem.

Desde esses princípios até a atualidade, seguiram diversos processos de evolução e transformação, mas algumas de suas características principais se mantêm.

Em termos gerais, podem-se distinguir três grandes tendências: a do modelo anglo-americano – vigente na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos da América –, o napoleônico – procedente da França, com vigência no âmbito latino-europeu e o humboldtiano, nascido na Alemanha, com vigência em outros países do norte europeu.

O modelo anglo-americano – com maior vigência nos Estados Unidos da América – responde à estrutura de todo o sistema educativo norte-americano por suas características de descentralização e de forte protagonismo de cada comunidade local; o modelo humboldtiano, com ênfase na concepção do estudante como investigador autônomo e com um papel decisivo da cátedra e do catedrático; e o napoleônico, que enfatiza a formação em cada profissão e dentro do qual, portanto, as universidades têm se organizado a partir de fortes faculdades de caráter profissional. Por exemplo, a França praticamente não tinha universidades até depois da reforma institucional promovida pelos acontecimentos de maio de 1968. É claro que a caracterização dessas grandes tendências pode constituir-se numa simplificação diante da diversidade de modelos de cada país e de cada região europeia. É importante apontar que, no Caribe Anglófono, a influência predominante tem sido a da universidade inglesa.

A Europa atravessou uma importante reforma universitária – Processo de Bolonha – tentando aplicar, em praticamente todo o continente, um modo único, que a aproxima do modelo anglo-americano quanto à organização dos estudos.

Na América Latina, desde o século XVI, têm se criado universidades por parte dos Reis da Espanha, com a aprovação do Vaticano. Algumas delas estão perto de completar cinco séculos. Portanto, na maioria dos países, a influência mais importante tem sido a da universidade espanhola, à qual, a partir de princípios do século XX, somou-se, em alguns países, como a Argentina, a da universidade francesa. Portanto, o modelo predominante é o napoleônico; em alguns países da América Central e do norte da América do Sul, registrou-se – a partir dos anos 1960 – uma influência do modelo anglo-americano.

Note-se que a Reforma Universitária de 1918 – de Córdoba, Argentina – teve uma forte influência em quase todos os países da América Latina com seu modelo de universidade autônoma, governada por seus claustros, fortemente vinculada à sociedade e de caráter predominantemente científico. A quase cem anos desse importante Movimento Reformista, muitos de seus postulados permanecem ainda sem se realizar.

No ano de 1950, havia, na América Latina, apenas 75 universidades, quase todas públicas; em 1975, eram 330 e, em 1985, já eram 450. Esse número se multiplica várias vezes desde finais da década de 80 e princípios da década de 90, já que, por influência do modelo neoliberal, produz-se um processo muito forte de privatização da universidade na América Latina com a implantação de modelos muito heterogêneos e de níveis muito díspares de qualidade. Na última década, a matrícula da educação superior na região cresceu com uma taxa anual de 6% – maior que a dos outros níveis de ensino –, mas foi de 8% para as instituições privadas e de apenas 2,5% para as públicas. Atualmente cerca de dois terços da matrícula de educação superior está em instituições privadas, de níveis muito díspares de qualidade e com modelos institucionais diversos, sem modificar substancialmente seu caráter predominantemente napoleônico.

Na América Latina, a formação docente tem sido responsabilidade das universidades, em muitos países, e de instituições especializadas de educação superior de caráter não universitário em outros, como é o caso da Argentina e o Uruguai. Atualmente o papel das universidades em relação com a formação e capacitação dos docentes dos níveis primário/básico e médio/secundário é um tema de debate, outro tema em debate é o da formação docente dos professores universitários.

Como já se apontou anteriormente, na Europa, a quase totalidade dos países (atualmente 46) têm adotado um modelo universitário praticamente único – diferente do que historicamente se registrava – denominado Processo de Bolonha, porque se originou – por iniciativa dos ministros de educação de 29 países europeus – nessa Universidade, em 1999. É um modelo relativamente similar ao anglo-americano com três anos de estudos de grado (quatro para a Espanha), um ou dois de mestrado e dois ou três de doutorado; com um sistema de créditos transferíveis similar para possibilitar a mobilidade dos estudantes; e desenhos curriculares baseados nas competências genéricas e específicas requeridas. Os europeus assumiram esse novo modelo com a intenção de reformar e modernizar a universidade tradicional, contribuir ao processo de integração e para possibilitar a concorrência com a universidade norte-americana na recepção de estudantes de outros continentes, em particular da Ásia e da África. O processo de reforma – que segundo o estabelecido no ano 1999 deveria ter concluído no ano 2010 – está em pleno desenvolvimento, com as previsíveis dificuldades de todo processo de mudança, porém com forte apoio da Comissão Europeia, dos governos, dos conselhos de reitores de cada país e da maioria de suas universidades.

Desde as Cúpulas Presidenciais da América Latina, do Caribe e da Europa (ALCUE) e de Ibero América, tem-se formulado propostas para criar espaços comuns de educação superior na América Latina e no Caribe-Europa (ALCUE) e no Ibero-americano, entre América Latina, o Caribe e a Europa, que promovem uma convergência dirigida e organizada desde a Europa, sem levar em conta as características e demandas da universidade na América Latina, particularmente sua autonomia institucional.

É por isso que, desde sua autonomia, as universidades devem propor-se a atender – entre outras – algumas das prioridades político-educativas que se apresentam na América Latina: assegurar o ingresso e permanência até a graduação com bons níveis de qualidade aos estudantes provenientes dos setores sociais de menor renda, mediante um processo de reforma de suas estruturas institucionais, organizativas e pedagógicas; atender aos requerimentos da sociedade buscando novas modalidades de articulação e de participação; reformar os processos pedagógicos e formar profissionais adequadamente capacitados para a docência universitária; assumir-se como terceiro nível do sistema educativo e cooperar para o melhoramento da qualidade dos níveis primário/básico e secundário/médio, particularmente através da formação dos docentes; tender à/visar a articulação e convergência de sistemas universitários no nível nacional, sub-regional e de toda a América Latina, através da criação de um espaço comum de educação superior. Para a Conferência Regional de Educação Superior em Cartagena de Índias, em junho de 2008, o IESALC/UNESCO elaborou um Glossário da Educação Superior (MESALC) a partir de um processo de consultas que abarcou toda a região. Em primeiro lugar, o IESALC reuniu todos os glossários sobre educação superior disponíveis na América Latina e Caribe, que fez revisar solicitando contribuições – para cada país e para cada termo – por parte de especialistas de toda a Região. A continuação, um Consultor – Norberto Fernández Lamarra – integrou todas as contribuições e deu a forma final ao Glossário, que foi apresentado na CRES. Pode ser consultado no sítio web do IESALC/UNESCO (www.iesalc.unesco.org.ve). Os termos disponíveis no Glossário são os seguintes: universidade, educação superior, nível superior, instituição de educação superior, instituto universitário, licenciatura/ bacharelado, programa de pré-grado (ou grado), de pós-grado, de especialização, de mestrado e de doutorado, educação de pós-graduação, doutorado, docência, extensão, entre outros.

Bibliografia