COORDENADOR PEDAGÓGICO

Autores/as: MARIA JOSÉ DA SILVA FERNANDES

É o responsável, nas unidades escolares, pelas ações de articulação coletiva do projeto político pedagógico, pelo acompanhamento e orientação do trabalho docente, pela organização de reuniões pedagógicas e pelas atividades de formação continuada. No trabalho cotidiano, deve criar oportunidades para a participação e discussão dos problemas concretos vividos pela escola, buscando coletivamente saídas para enfrentar os obstáculos presentes no processo ensino/aprendizagem. Também tem participação importante nas ações de avaliação do trabalho desenvolvido pela escola, devendo ter o cuidado de não submeter os docentes a julgamentos que desconsiderem as reais condições de trabalho a que estão submetidos. Apesar da grande importância na organização do trabalho escolar, o coordenador pedagógico teve uma trajetória profissional de descontinuidade e de difícil reconhecimento nas políticas públicas brasileiras, o que afetou a constituição de sua identidade profissional. Os registros iniciais do trabalho do coordenador pedagógico datam da década de 1960, quando a coordenação ganhou força em projetos progressistas, como ocorreu com os Ginásios Vocacionais. Posteriormente, na década de 80, com a possibilidade da gestão escolar democrática, a coordenação pedagógica se fortaleceu. A partir dessa década, o coordenador pedagógico, enquanto cargo ou função (há diferenças nas formas de ingresso e escolha dos coordenadores nos estados brasileiros) passou a fazer parte de forma mais incisiva da organização escolar, atendendo a uma reivindicação antiga dos movimentos docentes organizados que há vários anos lutavam para ter nas escolas sujeitos capazes de desenvolver ações de articulação do trabalho coletivo em torno de um verdadeiro projeto pedagógico. O coordenador pedagógico tem forte relação com a gestão democrática das escolas, representando uma possibilidade de superação da rígida estrutura hierárquica que predominou nas escolas brasileiras por vários anos e na qual se situavam em polos opostos especialistas e docentes. A concepção progressista presente no trabalho do coordenador pedagógico se constituiu num mecanismo de aproximação com os docentes e de fortalecimento das relações democráticas no interior das escolas, principalmente nos casos de carreira aberta em que o coletivo passou a ter a possibilidade de escolha dos coordenadores por meio de eleições. O coordenador pedagógico representa um parceiro importante na construção de uma escola pública verdadeiramente democrática. A realização do trabalho na coordenação pedagógica exige daqueles que desempenham a função conhecimentos de diferentes elementos presentes no complexo processo educacional. É necessário ter conhecimento em didática, metodologia de ensino, avaliação, currículo, legislação, políticas públicas, gestão escolar, etc. para realizar de forma satisfatória o trabalho nas escolas, ajudando os docentes a melhorarem o trabalho realizado. É necessário ter ainda conhecimento político para compreender o papel da escola em um contexto marcado por sucessivas reformas educacionais. O coordenador pedagógico mobiliza a escola e seus sujeitos, por isso, seu trabalho não pode se reduzir à mera execução de atribuições legalmente determinadas, ao papel de um controlador/fiscalizador do trabalho docente. No trabalho de coordenação, ocorrem, com frequência, dificuldades que se constituem em obstáculos para a realização satisfatória das atribuições pedagógicas. Pesquisas realizadas por Fernandes (2008), Araújo (2007), Duarte (2007), Dias-da-Silva (2002), Souza (2001), Clementi (2001), Christov (2001), Torres (2001) e Mate (1998) apontam dificuldades no trabalho de coordenação pedagógica, tais como desvios de função e sobrecarga de tarefas, ausência de identidade e de espaço específico de atuação nas escolas, isolamento em relação aos pares e conflitos de poder envolvendo direção e professores. Há ainda as dificuldades derivadas da fragilização da formação pedagógica do coordenador, o que tem interferência direta no trabalho cotidiano, não contribuindo para uma atuação consciente e intencional no desempenho das atividades. Ainda, segundo as pesquisas, há dificuldades no que se refere à organização dos encontros coletivos com os docentes, levando, em algumas escolas, à transformação das horas de trabalho pedagógico em meras exigências burocráticas. Ao organizar o trabalho na escola é necessário habilidade do coordenador para estabelecer vínculos com os professores, fortalecer a confiança coletiva e propor mudanças. Conhecer o trabalho do coordenador pedagógico, seu contexto de atuação e sua relação com a gestão democrática é fundamental para que os ocupantes do cargo ou função não venham a atuar simplesmente como “gerentes” na implantação das determinações oficiais, distanciando-se do papel histórico da coordenação, o que pode trazer enormes implicações para o trabalho docente. Assim, ao concluir, não podemos deixar de registrar a necessidade de as políticas públicas considerarem a importância das condições de trabalho e de profissionalização como elementos essenciais para o exercício satisfatório da coordenação pedagógica. Desde a necessidade de uma estrutura física nas escolas que acolha o coordenador e favoreça os encontros coletivos (pois em muitos lugares não há nem mesmo uma sala para o coordenador trabalhar) até as possibilidades de estudo e formação continuada, sem falar na remuneração e na redução da rotatividade e itinerância docentes, são muitas as exigências para evitar que a precariedade das condições de trabalho fragilizem o importante papel de articulação que o ideário progressista destinou ao coordenador pedagógico.

 

Bibliografia

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ARAUJO, S. C. L. G. Ser professor coordenador pedagógico: sobre o trabalho docente e sua autonomia. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação, Belo Horizonte.

CHRISTOV, L. H. S. Sabedorias do coordenador pedagógico: enredos do interpessoal e de (con) ciências na escola. 2001. Tese (Doutorado em Psicologia da Educação) – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo.

CLEMENTI, N. A voz dos outros e a nossa voz. In: ALMEIDA, L. R.; PLACCO, V. M. N. S. (Org.). O coordenador pedagógico e o espaço da mudança. São Paulo: Loyola, 2001. p. 53-66.

DIAS-DA-SILVA, M. H. G. F.; LOURENCETTI. G. C. A ‘voz’ dos professores e algumas reformas educacionais nas séries finais do ensino fundamental: desenvolvimento ou impasse? In: SAMPAIO, M. M. F. O cotidiano escolar face às políticas educacionais. Araraquara: JM, 2002. p. 21-43.

DUARTE, R. C. O professor coordenador das escolas públicas estaduais paulistas: análise das condições de trabalho e a construção do projeto político pedagógico. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação Escolar) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara.

FERNANDES, M. J. S. A coordenação pedagógica em face das reformas escolares paulistas (1996-2007). 2008. Tese (Doutorado em Educação Escolar) –  Universidade Estadual Paulista , Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara.

MATE, C. H. Qual a identidade do professor coordenador pedagógico. In: GUIMARÃES, A. A. et al. O coordenador pedagógico e a educação continuada. São Paulo: Loyola, 1998. p. 17-20.

SOUZA, V. L. T. O coordenador pedagógico e a constituição do grupo de professores. In: ALMEIDA, L. R.; PLACCO, V. M. N. S. (Org.). O coordenador pedagógico e o espaço da mudança. São Paulo: Loyola, 2001. p. 27-34.

TORRES, S. R. Reuniões pedagógicas: espaço de encontro entre coordenadores e professores ou exigência burocrática? In: ALMEIDA, L.  R.; PLACCO, V. M. N. S. O coordenador pedagógico e o espaço da mudança. São Paulo: Loyola, 2001. p. 45-51.