INTERVALO

Autores/as: ÁLIDA ANGÉLICA ALVES LEAL

Tempos interstícios existentes dentro dos horários escolares. Estão contidos na organização do tempo escolar dentro de um mesmo turno. São considerados tempos de intermitência: tempos entre uma aula e outra, horários vagos/janelas e recreios. Os períodos intervalares entre uma hora-aula e outra são tempos curtos, porém marcados por intensa movimentação nos espaços da escola. Nas mudanças de horários, os professores geralmente realizam trocas entre salas e/ou turmas diferentes. Ao saírem de uma sala e se direcionarem para outras, os docentes carregam seus materiais e são, por vezes, seguidos pelos estudantes. Nesses tempos, quando possível, os professores aproveitam para cumprimentar e/ou trocar algumas ideias com outros colegas e/ou estudantes, resolver alguns problemas rápidos, etc. Alguns estudantes, por sua vez, aproveitam esses momentos para levantarem-se, conversarem com colegas da mesma turma ou de outras, etc. Em algumas escolas, no entanto, tal situação se inverte, uma vez que são os estudantes que realizam a troca de salas. Tal organização varia conforme a organização dos horários escolares, as possibilidades do ambiente físico da escola, o projeto político-pedagógico, o tipo de atividade a ser desenvolvida durante as aulas, as conveniências das diferentes modalidades de ensino (fundamental, médio e superior), etc. Horários-janelas ou horários-vagos, por sua vez, referem-se a períodos em que o professor fica sem turma ou sem aula durante um mesmo dia, no mesmo turno e encontra-se impossibilitado de sair da escola, pois precisaria voltar para ministrar outras aulas. Tais períodos são geralmente utilizados para adiantar alguma tarefa na escola ou, mais raramente, para resolver alguma questão particular, para um pequeno descanso e para conversar com funcionário da escola e/ou algum professor na mesma situação. Por vezes, tais tempos são destinados à prática de “subir aula” ou “subir turma”, que consiste em um arranjo voltado para a substituição de aulas de professores que não estão presentes na escola, de modo que a turma não fique sem aulas nos primeiros horários do turno. Assim, em vez de os alunos ficarem com horário/aula vago no início ou no meio do turno, ele é transferido para o final. O resultado imediato desse arranjo é que professores e alunos podem deixar a escola mais cedo, uma vez que os horários que seriam vagos foram preenchidos: as aulas dos profissionais faltosos foram cobertas por outros e seus horários deslocados para as últimas aulas dos turnos. Os recreios, por sua vez, são tempos intervalares de pausa nas atividades que geralmente dividem ao meio o período em que alunos e professores permanecem na escola dentro de um mesmo turno. Definidos no Brasil em regulamentação específica, correspondem a períodos de vinte minutos de duração, o qual deve ser excluído da jornada diária de quatro horas de efetivo trabalho escolar, ou seja, de horas-aula. Para os docentes, são interstícios dos tempos escolares em que os mesmos se encontram pessoalmente, em momentos de afetividade, espontaneidade e descontração, geralmente na Sala dos Professores. São tempos de partilhar as alegrias e dificuldades do ofício. Dependendo do dia, podem se transformar em rituais de festa e dádiva. Tais momentos podem também ser de rever amigos, de fazer amizades e de estreitar laços com o grupo. São tempos conjuntos em que as diferenças podem aflorar em divergências e debates. São, ainda, ocasião para um pequeno descanso, para a alimentação e para refazer energias. Por vezes, servem também para avisos e minirreuniões para discussão e decisão sobre questões mais simples e urgentes das escolas. Apresentam-se como ocasiões para assinar o ponto e resolver pequenos problemas pessoais. São tempos que professores e alunos gostam de viver, uma vez que quebram o ritmo de trabalho. São períodos de descontração e descanso, desejados e esperados por ambos. São curtos, minutos poucos, porém grandes no que representam. Tempo coletivo, mas também individual, geralmente permitem escolhas pessoais sobre como aproveitá-los. Destaca-se que a utilização dos tempos intermitentes antes mencionados é variada, dependendo do turno, dos horários, do dia da semana, das especificidades das turmas, das condições biológicas e psíquicas dos sujeitos envolvidos, dos períodos do ano escolar, entre outros fatores. Embora os tempos interstícios sejam institucionalmente estabelecidos e delimitados, seja através dos horários de entradas e saídas das aulas, seja através dos horários de início e término dos recreios, entre outros, sua duração também depende do ânimo, das vontades, da menor ou maior pontualidade dos sujeitos neles envolvidos, além da cultura escolar. Tais interstícios podem ser encurtados ou prolongados, sendo que professores, estudantes e demais funcionários da escola alteram suas durações aberta ou veladamente, individual ou coletivamente, a cada dia escolar, ainda que estejam circunscritos a certos limites. Seus contornos, suas modulações e sua forma de organização também variam conforme o nível e modalidade de ensino. Um exemplo consiste nos momentos de recreio dos Ensinos Infantil e Médio, uma vez que o primeiro requer maior acompanhamento, cuidado e atenção em detrimento do segundo. Em termos gerais, tempos intervalares são vividos pelos docentes como lapsos nas rotinas do trabalho. Quebram a rítmica do tempo das aulas e do exercício do ofício. Têm outras cadências: irregulares, descontínuas. São momentos poucos, porém necessários e/ou especiais. VAR. DEN.: Hora-aula, horários escolares.

Bibliografia

BRASIL. Parecer CNE/CEB nº 02 de 19 de fevereiro de 2003. Recreio como atividade escolar. (referente à Indicação CNE/CEB 2/2002, de 04.11.2002). Diário Oficial da União, Brasília, 2003.

TEIXEIRA, I. A. C. Cadências escolares, ritmos docentes. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 87-108, jan./dez. 1999.

TEIXEIRA, I. A. C. Tempos enredados: teias da condição de professor. 1998. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação, Belo Horizonte.