MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO
São formas de organização socioterritorial de camponeses ou agricultores familiares sem terra e de trabalhadores rurais assalariados que lutam pelos direitos a terra, por emprego e/ou por melhores condições de trabalho e salário. (FERNANDES, 2005). As lutas pela terra e por reforma agrária, por recursos e infraestrutura predominam nos processos de expansão e desenvolvimento da agricultura camponesa ou familiar. As lutas por emprego e melhores condições do trabalho assalariado também continuam apesar de sua diminuição por causa da mecanização promovida pela modernização da agropecuária. Os movimentos sociais do campo sempre representaram formas de resistência contra a expansão do capitalismo. Desde os quilombos até os assentamentos de reforma agrária, os movimentos sociais do campo têm organizado territórios para o desenvolvimento da produção de alimentos e outros produtos, por meio das relações familiares, comunitária, associativa ou cooperativa. A luta por seus territórios tem sido uma das principais marcas da formação do campesinato brasileiro. A defesa destes territórios resultou em guerras, como, por exemplo, as guerras de Canudos na Bahia, no final do século XIX e a guerra de Contestado no Paraná e Santa Catarina, no começo do Século XX. Chacinas e massacres marcaram o século XX, como as lutas de resistência de Porecatu no Paraná, na década de 1940, de Trombas e Formoso em Goiás, nas décadas de 1950/60. Na década de 1990, dois massacres marcaram as trajetórias de resistências dos movimentos camponeses. Corumbiara em Rondônia, no ano de 1995 e Eldorado dos Carajás em 1996. E no liminar do século XXI, em 2004, ocorreu o massacre de Felisburgo em Minas Gerais. A repressão aos movimentos tem limitado seus tempos de existência. Entre os movimentos mais atuantes do século XX, podemos destacar as Ligas Camponesas que atuaram em quase todo o país, desde meados da década de1940 e foram extintas com o golpe militar de 1964. A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CONTAG, criada em 1963, é o mais antigo movimento social do campo. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST, cujo processo de formação começou nos anos 1978/79, mas foi oficialmente fundado em 1984, é o segundo mais antigo (FERNANDES, 2000). A partir da década de 1990, vários movimentos sociais do campo foram criados. Em 2010, o DATALUTA Banco de Dados da Luta pela Terra registrava a atuação de noventa e seis movimentos sociais no campo brasileiro (NERA, 2010). A Via Campesina, criada no começo da década de 1990 como uma articulação mundial de movimentos camponeses, tornou-se a principal protagonista da luta global em defesa do campesinato e do desenvolvimento sustentável do campo. Em 2010, estava representada em sessenta e nove países das Américas, África, Europa e Ásia. No Brasil, ela é representada pelo MST, pelo Movimento dos Pequenos Agricultores MPA, pelo Movimento dos Atingidos por Barragens MAB, pelo Movimento das Mulheres Camponesas MMC e pela Comissão Pastoral da Terra CPT. (DESMARAIS, 2007). Os movimentos camponeses são muito conhecidos, principalmente por suas lutas contra o agronegócio e pelas ações contra as políticas da Organização Mundial do Comércio OMC, que hoje controla também o mercado mundial de alimentos. A soberania alimentar tornou-se uma das principais bandeiras dos movimentos sociais do campo, representando parte importante dos produtores de alimentos em diversos países. Esses movimentos defendem modelos de desenvolvimento em que reivindicam o direito de produzir a partir de seu próprio modo de vida. Por essas razões, disputam territórios com o agronegócio gerando conflitos permanentemente. Essas lutas são divulgadas cotidianamente pela mídia corporativa que procura criminalizar as ações dos movimentos e desqualificá-las. Uma parte pequena da população urbana está esclarecida sobre essas conflitualidades. Compreender essas realidades é fundamental para entender melhor o mundo moderno.