PEDAGOGIA
É a teoria ou ciência da prática educativa. Desenvolveu-se paralelamente a esta prática ao longo da história da civilização ocidental. Firmou-se como o modo de apreender ou de instituir o processo educativo, sendo identificada com o próprio modo intencional de realizar a educação (SAVIANI, 2008). Segundo Franco, Libâneo e Pimenta, etimologicamente significa arte de condução de crianças(2007, p. 64).
O termo pedagogia surgiu na Grécia. Segundo Jaeger (1986), a origem da problemática pedagógica também seria grega, com origem nos sofistas, que teriam trazido ao plano das ideias, da sua elaboração consciente, o fazer da educação. Roma incorporou o termo e a problemática pedagógica. Na língua latina, segundo Saviani (2008), essa problemática expressava-se pelas palavras paedagogatus e também institutio, assumindo igualmente o significado de educação ou formação. Esse autor ressalta, porém, que a trajetória histórica da problemática da pedagogia não coincide com a trajetória do termo: vários educadores como Quintiliano, Montaigne, François Mauriac, Santo Agostinho, Santo Thomas de Aquino escreveram obras sobre a problemática pedagógica, sem recorrer ao termo pedagogia. Assim também Comenius, que representa um marco no desenvolvimento da pedagogia, tomou a palavra didática para articular as suas reflexões; Condorcet deu preferência a expressões tais como método de ensinar, arte de ensinar, instrução. A partir do século XIX, graças, sobretudo, à contribuição de Herbart, generalizou-se o uso do termo pedagogia para nomear a conexão entre a elaboração consciente da ideia da educação e o fazer consciente do processo educativo, o que ocorreu mais fortemente nas línguas germânicas e latinas do que nas anglo-saxônicas (SAVIANI, 2008, p.6).
Desde a Grécia antiga, houve uma dupla referência para o conceito de pedagogia, qual seja: a reflexão ligada à filosofia, acentuando a finalidade ética presente na atividade educativa; e o sentido empírico e prático inerente à paideia, entendida como a formação da criança para a vida, reforçando-se assim o aspecto metodológico presente já no sentido etimológico da palavra. Comenius procurou equacionar a questão metodológica do ensino, buscando a construção de um sistema pedagógico articulado em que a consideração dos fins da educação se constituía como base para a definição dos meios, sintetizados na didática como a arte de ensinar tudo a todos. Já Herbart tentou unificar num sistema coerente os dois aspectos da tradição pedagógica, a reflexão teórica e o sentido empírico e prático, salientando a necessidade de a pedagogia elaborar os fins da educação a partir da ética; e os meios, com base na psicologia. No âmbito do idealismo, a pedagogia foi identificada com a filosofia da educação, mas no âmbito do positivismo, como em Durkheim (1965), a pedagogia é uma teoria prática, voltada à realização do fenômeno educativo, em contraposição a uma teoria científica voltada ao conhecimento do fato educativo (sociologia da educação). Segundo Saviani, a postura positivista resultou principalmente numa submissão da pedagogia às ciências empíricas, que, sob essa influência, foram tomadas como modelo para a pedagogia.
Libâneo e Pimenta (1999) e Franco (2003), assim como Saviani (2008), mostram que, a despeito da discussão do conceito de ciência e de sua aplicabilidade se encontrar ainda hoje presente no âmbito das ciências humanas e do questionamento de muitos intelectuais quanto à cientificidade da pedagogia, a investigação científica do fenômeno educativo é uma realidade da qual os manuais de História da Educação são testemunhos claros (LUZURIAGA, 1971; MANACORDA, 1989; CAMBI, 1999).
Nas últimas décadas do século XX, é possível perceber que a pedagogia passa a adquirir maior autonomia científica. Estudos de Schmied-Kowarzik (1983) tomam a pedagogia como uma ciência prática. Genovesi (apud SAVIANI, 2007) acentua que a pedagogia é uma ciência autônoma porque tem uma linguagem e um método próprios, o que lhe possibilita gerar um corpo de conhecimentos, experimentações e técnicas para a construção de modelos educativos. Como ciência, oferece modelos formais sobre a formação do indivíduo, justificados racionalmente e logicamente defensáveis. Essa compreensão da pedagogia como ciência, segundo Saviani (2007; 2008), evoluiu de uma compreensão dialética da relação entre a teoria e a prática: ainda que se constituam em aspectos distintos, salienta-se a sua inseparabilidade. O ato de antecipar mentalmente o que será realizado significa que a prática é determinada pela teoria, sendo que quanto mais sólida for a teoria que orienta a prática, tanto mais consistente e eficaz será a atividade prática.
Como não poderia deixar de ser, a pedagogia pertence ao campo das disputas epistemológicas e sociais. Tendências contrapostas têm atravessado o seu percurso e a sua experiência em busca da hegemonia no campo educativo. Assim, pedagogia conservadora versus pedagogia progressista, pedagogia católica versus pedagogia leiga, pedagogia autoritária versus pedagogia da autonomia, pedagogia da essência versus pedagogia da existência, pedagogia tradicional versus pedagogia nova.