PESQUISA-AÇÃO

Autores/as: FERNANDO NAIDITCH

Forma de pesquisa interativa que visa compreender as causas de uma situação e produzir mudanças. O foco está em resolver algum problema encontrado por indivíduos ou por grupos, sejam eles instituições, escolas, ou organizações comunitárias. A pesquisa-ação se desenvolve na medida em que pesquisadores investigam um problema e sugerem possíveis soluções, visando melhorar sua prática profissional, as estratégias por eles utilizadas em sua forma de trabalho e ampliar o conhecimento acerca de questões que afetam diretamente a produtividade ou a qualidade do trabalho desenvolvido por um grupo ou por uma instituição.

A criação do termo pesquisa-ação é creditada ao pesquisador Kurt Lewin (1946), que a descreveu como uma forma de pesquisa sobre os efeitos ou resultados de várias ações cujo objetivo seria promover a mudança da própria condição social. A contribuição de Lewin está no reconhecimento da possibilidade de o pesquisador interagir e interferir no seu ambiente de pesquisa sem separar a investigação da ação necessária para resolver um problema e sem afastar o pesquisador do objeto de investigação. A pesquisa-ação promove autonomia e dá mais poder ao pesquisador em examinar sua prática profissional. Além disso, ela contribui para a colaboração através de participação, a criação de conhecimento através da ação dos participantes e a possibilidade de contribuir para a mudança social.

Pesquisadores que desenvolvem pesquisa-ação estudam a realidade social sem se distanciar desta. Pesquisa-ação é contextual e realizada ao mesmo tempo em que alguma forma de ação ou intervenção resulta da pesquisa. Os resultados dessa ação servem como dados adicionais da pesquisa e são estudados ao longo do processo. Por isso, a pesquisa-ação é também  descrita como um contínuo, uma série de ciclos de ações que envolvem diferentes fases de planejamento, ação, observação dos efeitos e reflexão acerca das observações e resultados obtidos. Esses ciclos também ajudam os pesquisadores a refinar suas questões de pesquisa tornando-as mais pontuais e a refletir sobre a transformação de suas perspectivas.

O processo da pesquisa-ação envolve pessoas que buscam melhorar suas habilidades, técnicas e estratégias. O objetivo é desenvolver profissionais capazes de exercerem suas funções de forma mais produtiva e efetiva e equipá-los a mudar sua forma de agir para causar um impacto em seu ambiente e nas pessoas com quem interagem.

Há várias formas de pesquisa-ação que podem ser implementadas dependendo dos participantes e do contexto da pesquisa. Um professor pode iniciar o processo de pesquisa-ação em sua sala de aula quando identifica um problema de ensino ou aprendizagem. O professor pode coletar dados através da observação de elementos ou posturas específicas na sala de aula como participação de alunos, formação de grupos, uso do livro-texto ou outros materiais de ensino, ou os tipos de perguntas geradas. O desafio em pesquisas individuais é a falta de oportunidade de discussão e de troca de experiências com outros profissionais.

Por isso, a pesquisa-ação parece ser mais efetiva quando realizada em colaboração por um grupo de pesquisadores. Pesquisa-ação colaborativa requer a participação de um grupo de profissionais que busquem solucionar problemas ou questões de ensino que sejam compartilhadas por esse grupo e cuja busca de soluções pode afetar mais pessoas ou uma instituição.

A pesquisa-ação realizada em uma instituição deve centralizar seu foco em uma questão que afete o funcionamento da instituição como um todo. Uma escola pode estar tentando mudar a forma como as decisões são tomadas, por exemplo. Ao desenvolver a pesquisa-ação, é importante que o grupo inclua todas as pessoas que afetam e que são afetadas, direta ou indiretamente, pelas decisões (como professores, administradores, funcionários, alunos e pais). Esse grupo deve trabalhar em conjunto para elaborar as questões da pesquisa, decidir o que constitui os dados dessa pesquisa e a forma como estes serão coletados e analisados.  A partir das informações obtidas, o grupo pode também decidir sobre um plano de ação a ser seguido. A pesquisa-ação colaborativa requer estrutura e consistência. A forma de lidar com problemas e a habilidade de superá-los fazem parte do processo e os participantes aprendem a trabalhar colaborativamente e a fazer concessões visando o bem comum.

A pesquisa-ação pode ser realizada em um nível ainda mais complexo. Por exemplo, uma secretaria de educação pode estudar formas de elevar os resultados de testes nas escolas, aumentar o número de alunos concluindo um nível escolar, ou diminuir a evasão escolar. Em casos de pesquisa-ação mais global, é necessário decidir questões de comunicação entre os membros, documentação do processo de pesquisa e dos dados, prazos para conclusão de tarefas e uma forma de manter o processo sempre em movimento, sem interrupções ou desistências. Os resultados da pesquisa-ação podem levar a reformas educacionais significativas. 

Ao realizar pesquisa-ação, há uma série de passos que o pesquisador deve observar: 1 – Identificação do problema: O pesquisador deve identificar um problema ou definir uma situação que necessita ser estudada. A identificação do problema gera a pergunta da pesquisa, seu objetivo e escopo; 2 – Coleta de dados: Os dados devem ser obtidos em múltiplas fontes. Pesquisadores utilizam entrevistas, diários de classe, arquivos escolares, pautas, agendas, atas e registros de encontros e reuniões, notas de campo, fotografias, gravações audiovisuais, pesquisas de opinião, questionários, grupos de foco, autoavaliações, avaliações (resultados de testes e exames, boletins), registros de frequência de alunos e funcionários, e amostras de trabalhos dos alunos e projetos escolares, entre outros. Depois de coletar dados, é necessário selecionar os que são mais apropriados para a questão sendo investigada. O critério de seleção pode incluir a viabilidade e a disponibilidade dos dados, a sistematicidade e frequência da coleta ou a quantidade de dados obtida. É importante utilizar pelo menos três fontes diferentes de informação – triangulação de dados; 3 – Interpretação dos dados: A interpretação e análise de dados vai depender da questão levantada no início da pesquisa. Alguns dados poderão ser quantificados (frequência, número de ocorrências, resultados em testes). Outros irão exigir uma análise mais qualitativa (entrevistas, atitudes, opiniões). No caso de análise qualitativa, deve-se procurar tendências nos dados e classificá-los de acordo com temas encontrados; 4 –  Ação: O plano de ação é uma resposta às informações encontradas na pesquisa. O pesquisador deve utilizar os resultados obtidos para delinear um plano de ação que permita mudanças e a possibilidade de se estudar a implementação dessa mudança.  O pesquisador deve considerar diferentes alternativas e selecionar o plano de ação mais apropriado; 5 – Avaliação: O processo de avaliação é uma reflexão que o pesquisador desenvolve para examinar as consequências e os efeitos da ação ou intervenção implementada para solucionar o problema inicial. A avaliação é necessária para poder determinar se houve melhora na situação.

A pesquisa-ação é um processo cíclico que requer revisão e sistematicidade. O resultado de um processo de pesquisa irá gerar novas questões que provocarão novas investigações e novos planos de ação.

Bibliografia

LEWIN, K. Action research and minority problems. Journal of Social Issues, Malden, v. 2, n. 4, p. 34-46, 1946.