ESTÁGIO DOCENTE

Autores/as: SILVANA VENTORIM

Ato educativo supervisionado realizado no contexto do trabalho docente que objetiva a formação de educandos que estejam regularmente frequentando cursos e/ou programas de formação de professores nos níveis do ensino médio e do ensino superior, nos cursos de graduação e de pós-graduação stricto sensu. O estágio docente pode ser classificado como obrigatório e não-obrigatório. O estágio docente obrigatório tem sua natureza, finalidades e pressupostos definidos em diretrizes curriculares da etapa, do nível e da área de ensino e do projeto pedagógico do curso e/ou do programa de formação de professores. O estágio docente não obrigatório é facultativo ao estudante. A partir da Lei nº 11.788/2008, que dispõe sobre o estágio de estudantes, também o estágio docente requer um estudante regularmente matriculado com frequência efetiva em um curso e/ou programa de formação de professores, um profissional orientador e/ou supervisor da instituição concedente com formação e experiência profissional na área do curso do estagiário, uma unidade concedente onde o estágio será desenvolvido e um programa/plano de atividades de estágio a ser planejado, implementado, supervisionado e avaliado pelas instituições envolvidas. Para tanto, são necessárias a celebração do termo de compromisso entre o educando, a instituição concedente e a instituição educativa, bem como a compatibilidade entre as atividades realizadas no estágio e as estabelecidas no referido programa/plano de atividades que, por sua vez, deverá estar balizado pelas diretrizes curriculares da etapa, do nível e da área de ensino e do projeto pedagógico do curso e/ou programa de formação de professores. Segundo a referida lei, a jornada de atividades de estágio docente, definida em acordo com as partes envolvidas, deverá ser compatível com as atividades escolares e com limite de 30 horas semanais para estudantes em cursos de formação de professores, em nível de ensino médio e de ensino superior. Como componente curricular dos cursos de licenciatura, o estágio docente a ser realizado em escola de educação básica tem a carga horária mínima de 400 horas a ser desenvolvida a partir da segunda metade do curso (Resolução CNE/CP no 1/2002; Resolução CNE/CP nº 2/2002). Tem-se instituído pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em cursos de graduação o estágio de docência para alunos da pós-graduação stricto sensu que sejam bolsistas da CAPES, tendo como objetivo preparar os estudantes para a atividade docente de nível superior sob supervisão de professores do programa de pós-graduação, bem como qualificar o ensino de graduação e integrar academicamente graduação e pós-graduação. Como parte integrante dos processos de formação de professores, o estágio docente constitui-se pela vivência de situações concretas do trabalho docente, proporcionando experiências didático-pedagógicas, técnicas, científicas, artísticas e socioculturais. A inserção político-pedagógica do estagiário de forma gradativa no exercício da profissão docente, compreendida como o magistério e/ou a gestão de instituições educativas, articula dimensões do saber, do saber fazer e do saber conviver. O estágio docente trata da inserção real em situação de trabalho docente e da articulação entre a prática e o estudo acadêmico. A reflexão teórico-prática sobre a docência e as práticas escolares mobilizadas de forma interdisciplinar pelos processos de problematização da realidade educacional, de intervenção pedagógica e de pesquisa e de produção de conhecimentos sobre o/no cotidiano do trabalho educativo em diferentes níveis, etapas e modalidades de educação são pressupostos de uma concepção orgânica de estágio docente. Por isso, a importância do estágio nos processos de formação de professores e a consideração do estágio como campo de conhecimentos com estatuto epistemológico que articula cursos de formação de professores, campo social e a pesquisa (PIMENTA; LIMA, 2004). Com essa premissa, o estágio docente é considerado como fonte geradora de problemas e de produção de conhecimentos, constituindo-se em espaço/tempo de apropriação e construção da prática docente no e a partir do enfrentamento das questões concretas da escola, ou seja, é nelas que se pode observar, analisar, pesquisar a realidade e nela intervir. No estágio docente, tem-se como princípio aprender a profissão docente entendida na sua complexidade e dinamicidade; construir a identidade profissional; dotar o educando de instrumentos teóricos e metodológicos para compreender a escola e o preparar para as suas demandas; reafirmar as escolhas profissionais e crescer na formação; articular formação inicial e continuada, universidade e sistemas de ensino e instituições educativas. O estágio docente como processo de formação interativa e crítico-reflexiva se insere na […] análise das instituições e de suas práticas em sua complexidade, verificando-se como afetam os alunos de diferentes classes sociais, como reproduzem as discriminações em suas práticas e relações, mas também como autoproduzem condições de superação dessas práticas e relações (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 109). Pretende-se formar um professor que domina seus aportes para compreender o mundo e nele intervir por meio de sua atividade profissional, produzindo conhecimento. Os processos de formação devem possibilitar a construção de saberes/fazeres pelos professores, a partir dos desafios que a prática de ensino demanda do cotidiano. Pressupõe-se, então, o estágio como uma oportunidade de ressignificação da identidade docente com a articulação entre formação inicial (educando estagiário) e formação contínua (profissionais do campo de estágio), ou seja, como […] possibilidade para ressignificar suas identidades profissionais, pois estas, […] não são algo acabado: estão em constante construção, a partir das novas demandas que a sociedade coloca para a escola e a ação docente. Formadores e formandos encontram-se constantemente construindo suas identidades individuais e coletivas em sua categoria (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 127). Para o desenvolvimento do estágio docente, são necessários intercâmbios entre as diferentes instituições de ensino, universidade, estágio e escola, com o sentido de compreender cada cultura específica e o que as aproxima e as diferencia para acontecer um processo contínuo de aprendizagens (PIMENTA; LIMA, 2004). O estágio docente deverá desenvolver participação e atuação em parceria e em colaboração com os sistemas de ensino e instituições educativas, incluindo a reflexão e o questionamento das práticas enraizadas no contexto institucional e no profissional. A perspectiva da ação colaborativa nos estudos sobre a formação do professor destaca como fundamental o resgate da profissionalidade do professor e a legitimação do seu conhecimento prático por meio de relações de colaboração e corresponsabilidade entre instituições formadoras como a escola e a universidade. É apontada como mobilizadora para se propor o eixo articulador pesquisa, formação do professor e prática pedagógica mediado pelas relações constituídas no estágio docente, o que implica a construção de uma cultura de análise das práticas na ação conjunta entre estagiários, profissionais da escola e da universidade, cujo vínculo é um dos principais desafios, exigindo relações de confiança, de parceria e de diálogo. O enfoque é o de ajudar na construção da identidade dos professores por meio de um processo formativo que mobiliza os saberes das teorias da educação e que constitui os seus saberesfazeres docentes. Os campos de estágio docente, instituições educativas de educação básica e instituições de ensino superior são concebidos não apenas como um lugar de aprendizagem, mas espaço de formação individual e de cidadania democrática, onde trabalhar e formar não sejam atividades distintas (NÓVOA, 2002). Nisso está posto o desafio de ressignificação dos papéis das instituições de ensino quanto à formação docente, isto é, o compromisso político-social com a docência e a corresponsabilidade na formação inicial e na formação continuada na perspectiva da produção da escola, da produção da profissão e da produção da vida (NÓVOA, 2002). Essa concepção de estágio como ato educativo contraria a assunção de uma concepção reducionista e pragmática quando o estágio docente assume a condição de substituição do trabalho docente e o estagiário assume o lugar de trabalhador docente, expressando sinais da precarização da condição docente. As políticas de formação e desenvolvimento profissional do professor devem se inserir no projeto sócio-histórico que resgate a importância da formação e do trabalho docente e seu papel na transformação do ensino, da escola, da educação e da busca por uma sociedade mais justa.

Bibliografia

BRASIL. Resolução CNE/CP, nº 2, de 19 de fevereiro de 2002. Institui a duração e carga horária dos cursos de licenciatura, graduação plena, de formação de professores da educação básica em nível superior. Diário Oficial da União,Brasília, 23 dez. 2002.

BRASIL. Resolução CNE/CP nº 1, de 19 de fevereiro de 2002. Institui diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores da educação básica, em nível superior, curso de licenciatura, graduação plena. Diário Oficial da União, Brasília, 09 abr. 2002.

BRASI. Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008. Dispõe sobre o estágio de estudantes; altera a redação do art. 428 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996; revoga as Leis nos 6.494, de 7 de dezembro de 1977, e 8.859, de 23 de março de 1994, o parágrafo único do art. 82 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e o art. 6º da Medida Provisória  nº 2.164-41, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 26 set. 2008.

NÓVOA, A. Formação de professores e trabalho pedagógico. Lisboa: Educa, 2002.

PIMENTA, S. G.; LIMA M. S. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez 2004.